terça-feira, abril 06, 2010

A ética da malandragem


Viver sem a internet parece ser impossível hoje, assim como as pessoas ficam desesperadas sem um celular por perto. A rede mundial de computadores revolucionou o cotidiano em todas as áreas e ampliou as oportunidades de entretenimento, lazer, trabalho, estudo e conhecimento. Pena que esse avanço não se estendeu à ética.

A geração que nasceu e cresceu junto com a internet é mais “antenada”, mas esperta, mas comunicativa, mais expansiva e mais dinâmica, porém tem menos (ou não tem) limite, menos respeito, menos humildade, menos educação familiar. Não tem modos e suas referências, frequentemente, são as piores possíveis.

É cada vez mais comum vermos em cadernos de informática de jornais, ou de adolescentes, ou até de economia, um bando de pessoas que não tem vergonha de afirmar que se recusa a pagar por música ou livro ou qualquer texto exclusivo.

É uma geração acostumada ao pior jeitinho brasileiro, e que admite praticar atos ilícitos sem o menor sentimento de culpa e sem a menor preocupação em ser punido.

Uma revista de circulação nacional publicou um apequena entrevista com um estudante universitário que se gabou de nunca ter comprado um CD de música na vida, “já que consegue encontrar tudo o que quer na internet, e de graça”. Admite candidamente a prática da pirataria, e parece que não foi incomodado pela prática deste crime.

A geração da internet acha que é a coisa mais normal do mundo pegar de graça, “baixar” e não pagar. Se existe algum tipo de conteúdo fechado em algum site, não se constrangem em encontrar meios de burlar as restrições.

Essa ética grosseira e criminosa foi transposta sem a menor cerimônia para as salas de aula. É cada vez mais comum alunos copiarem conteúdos inteiros na web para fazer trabalhos escolares e não têm a menor preocupação em serem apanhados ou descobertos. Para esse tipo de gente, é a coisa mais normal do mundo em tempos de internet.

Os exemplos de atos ilícitos e de falta de ética são numerosos e se estendem por todas as atividades da rede. E é mais do que óbvio que esse comportamento é o mesmo também na “vida real”.

A exigência de privilégios é o principal item da pauta da garotada. Ninguém mais se conforma em encontrar “dificuldades” para atingir seus objetivos. Qualquer obstáculo é motivo de reclamações. Qualquer voz contrária aos seus desejos é vista como insulto.

A falta de limites é tamanha que aumentam mês a mês os casos de agressões a meninas em casas noturnas ou mesmo em matinês em clubes sociais. Garotos simplesmente não admitem que as garotas recusem beijá-los.

Quando isso ocorre, os adolescentes agarram as garotas no meio da pista de dança e tentam beijá-las à força. Isso acontece no baile funk da periferia, nas favelas, e nas pistas das casas noturnas mais caras dos bairros chiques.

Assustados, especialistas em educação apontam a falta de imposição de limite e o ambiente de absoluta permissividade na internet, onde comportamentos libertinos, insanos, extravagantes, egoístas, egocêntricos e altamente possessivos são estimulados.

A internet talvez seja o principal instrumento já inventado para expandir o conhecimento e a inteligência. É uma ferramenta que ajuda e estimula as pessoas a pensar. Pena que a juventude esteja se recusando a pensar.

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