Os muros da inclusão
A discussão sobre os muros nas favelas cariocas amainou, e parece que a serenidade começa a tomar conta do debate sobre a viabilidade ou não de se fazer a contenção nos morros do Rio de Janeiro.
A ideologização do tema prejudicou a compreensão da iniciativa da prefeitura do Rio, e acabou por gerar um festival de sandices, inclusive de um prêmio Nobel de literatura, o português José Saramago. Houve de tudo, de acusações de discriminação social e racial a aplicação de supostas teorias “nazistas”.
O fato é que a questão dos muros em favelas no Rio de Janeiro está voltando ao foco original, que é a aplicação de medidas para conter a expansão dos barracos.
E isso tem tudo a ver com o ABCD. É hora de os gestores públicos da região olharem para o que está sendo feito na capital fluminense e iniciar o mais rápido possível o debate sobre o avanço indiscriminado e criminoso das favelas nas cidades – exceto em São Caetano.
Não se trata de estigmatizar as favelas do ABCD e seus moradores. Os crimes contra a sociedade e contra as administrações públicas foram gestados e incentivados durante 30 anos pro políticos inescrupulosos e bandidos de toda a espécie, com as invasões de morros e de áreas de manancial (áreas que ficam nas imediações de nascentes de rios).
Desde o crescimento da indústria automotiva em São Bernardo e em Santo André que o processo de favelização na região é contínuo, contando com a cobertura criminosa de vereadores e “grileiros” desde o final dos anos 70 do século passado, com o tácito apoio das fábricas – afinal, era melhor ter os trabalhadores morando perto das linhas de montagem, mesmo que em favelas nos morros da Vila São Pedro, no Montanhão e no bairro Battistini, todos em São Bernardo.
Para completar, o acabamento: a legalização das lotes irregulares e invadidos pelas prefeituras, que se encarregaram de levar energia elétrica, asfalto, ligações de água e esgoto, legitimando na marra os “novos bairros”.
O resultado é um inchaço indecoroso na população dos sete municípios, com a precarização dos serviços básicos de saúde, educação e transportes. Na esteira da favelização, vieram os crimes e a violência – em parte como grito de socorro de um população acuada, indefesa e abandonada pelo poder público, após o apoio inicial oportunista na hora da “legalização”.
A situação piora ano a ano, com novas áreas invadidas e com a chega de novas modalidades de crimes. Tudo isso sem que haja qualquer reação do poder público. Enquanto a discussão avançou no rio de Janeiro e alguma medida foi tomada, aqui nas sete cidades nem mesmo se fala no assunto.
E vai piorar, não resta dúvida. O trecho Sul do Rodoanel Mário Covas deve ficar pronto até o primeiro trimestre de 2010. Absolutamente necessária e indutora de desenvolvimento, a obra também trará o ônus do aumento de bolsões de miséria, a exemplo do que ocorreu no trecho oeste, nas cidades de Barueri, Carapicuíba e Osasco.
Várias favelas surgiram às margens das pistas naquela cidades, numa tentativa desesperada de uma parte do povo que fugia desesperadamente da pobreza, para encontrar não mais do que miséria, só que um pouco mais perto da Capital.
A vida dos prefeitos do ABCD está cheia de desafios neste ano, e a contenção da expansão das favelas em São Bernardo, Santo André, Mauá e Ribeirão Pires talvez seja o principal deles, justamente por conter custos políticos altos, mas necessários. Neste quesito, Diadema é o modelo a ser seguido.
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