No 'Estadão' de hoje, sábado, 2 de maio
Carioca ignora visita do COI
População não vai às ruas de verde e amarelo, apesar dos apelos feitos pelos dirigentes
Bruno Lousada, RIO
Foi em vão a campanha para os cariocas irem às ruas de verde e amarelo e pendurar bandeiras do País na varanda de suas casas para sensibilizar a Comissão de Avaliação do Comitê Olímpico Internacional (COI), que transitou ontem pela cidade para inspecionar várias instalações esportivas. O número de pessoas que aderiu à convocação, feita à exaustão em rádio e televisão, foi inexpressivo.
Na Avenida Atlântica, área nobre de Copacabana muito frequentada por turistas e cariocas, foi raro ver alguém, durante boa parte do dia, com as cores pedidas pelos defensores da candidatura carioca. O Rio disputa com Madri, Tóquio e Chicago o direito de ser sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
"Eu não estava junto da comissão (internacional), mas o relatório que tive de quem estava com eles diz que houve bastante apoio popular durante a passagem (da comitiva)", disse Leonardo Gryner, diretor de marketing do comitê Rio-2016.
A equipe do COI visitou o Forte de Copacabana, o Parque Maria Lenk, a Arena Olímpica, o Estádio João Havelange, o Maracanã, a Marina da Glória, o Complexo de Deodoro e seguiu de metrô da Glória a Copacabana, bairros da zona sul.
Todas as instalações ganharam banho de loja e foram repaginadas. Estavam limpas e bem decoradas para receber os 13 membros do COI, sete deles com poder de voto. Até estrelas do esporte brasileiro foram escaladas para recepcionar os delegados internacionais nos principais equipamentos da cidade.
A campeão olímpica Maurren Maggi deu as boas vindas à comitiva na pista de atletismo do Engenhão. Pelé fez o mesmo no Maracanã e disse ter ficado emocionado com a visita.
"Tenho de agradecer a Deus. Eles ficaram surpresos com tanta coisa bonita, tanta coisa boa. O pior é que meu inglês não é dos melhores e eu tive de explicar para eles que não tremi no milésimo gol (feito no estádio)", declarou, com largo sorriso. "Foi uma alegria geral e eles se sentiram à vontade. Quem sabe não ganhamos a batalha".
De acordo com Pelé, a comitiva deixou o Maracanã impressionada com o que viu. "Senti tanto entusiasmo neles que eu tenho três cartões dos membros (do COI), incluindo o da presidente (da comissão, a marroquina Nawal El Moutawakel)", contou. "Ela disse que quer vir para cá sem trabalhar."
Truculência no vagão especial do metrô
Seguranças agridem e ameaçam repórter do Estado
Pedro Dantas, RIO
Seguranças à paisana isolaram a comitiva do Comitê Olímpico Internacional (COI) no último vagão do Metrô da Glória à estação Cantagalo, em Copacabana (zona sul), uma das etapas finais da vistoria de ontem. Os demais passageiros foram orientados a "dispersar" por homens em trajes civis, que impediam a entrada do público comum. O repórter do Estado também foi barrado: teve de obedecer à ordem de seguir em outro vagão, acompanhado por dois seguranças à paisana.
No fim da viagem, três homens, identificando-se como policiais, mas sem exibir documentos, o empurraram para um banheiro, torceram-lhe o braço e o ameaçaram. "O procedimento é este", disse um deles.
Durante a viagem, o jornalista se identificou para um dos agentes que ostensivamente o seguiam. O homem pediu desculpas e se disse aliviado, mas afirmou que seria obrigado a desmontar "todo um esquema" já pronto para abordar o repórter. Pediu que não citasse nada no jornal, pois poderia "desclassificar a candidatura do Brasil". Em tom de ameaça, disse que sabia "muito bem" como encontrá-lo.
O constrangimento começou perto da escada rolante da estação Cantagalo. Um homem de camisa preta e boné mandou o profissional "desenrolar" e "seguir em frente sem olhar pra trás". O repórter se identificou e perguntou quem era o estranho. "Polícia", respondeu, ríspido. O jornalista tentou seguir em direção à escada rolante. Outro homem se aproximou e o repórter foi empurrado para um banheiro. Seu braço foi torcido e o rosto mantido junto ao azulejo. Outras pessoas que estavam no banheiro saíram, assustadas.
Após verificar o crachá do repórter, o agressor sumiu. Um deles telefonou para a sucursal do Estado, sem se identificar, e perguntou se o jornalista trabalhava lá. Outro agente, de cavanhaque, que estava na estação Glória, então reapareceu e repreendeu o jornalista, dizendo que a viagem era apenas para credenciados. A informação, contudo, não era verdadeira. Não houve credenciamento para acompanhar a viagem de metrô. Os homens interrogaram o repórter: queriam saber onde mora, se é "experiente" na profissão. Diante da alegação de que a truculência não era necessária, um deles afirmou que o "procedimento" era normal.
Antes da viagem, desde cedo, o bairro da Glória, que recebeu os integrantes do COI para o embarque, amanheceu sem os habituais ambulantes e mendigos, que deixam pouco espaço para pedestres na Rua da Glória. Uma hora antes da chegada da comitiva, ônibus da Guarda Municipal, garis, carros de reboque da Secretaria Municipal de Trânsito e viaturas da Polícia Militar deram os últimos retoques.
A Secretaria de Segurança do Rio alegou não ter participação na segurança dos eventos ligados à Rio-2016, que são de responsabilidade de agentes privados, contratados pelo CO-Rio, e da Polícia Federal. O CO-Rio disse que não usou segurança para a visita ao metrô e que sequer foi informado sobre o episódio. O Estado procurou a PF, sem sucesso.
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