Será o fim de mais uma aventura?
No final do ano passado comentei por aqui sobre a legião de aventureiros que acham a comunicação uma área frutífera e com dinheiro sobrando para que possam brincar de “editores” ou “publishers” e usufruir os “status” que a atividade supostamente dá.
Só que o setor é hostil demais a aventureiros. E mais ainda no ABCD. E o mercado, infelizmente, confirma essa tese. Mais uma boa ideia, mas pessimamente executada, foi para o lixo.
Os parceiros locais da Rede Bom Dia de jornais decidiram abandonar o negócio, cansados da falta de faturamento e de gastos altos para manter o Bom Dia ABC.
A crise do jornal tenta ser contornada com a rede tentando assumir as operações da franquia na região temporariamente, mas sem garantir a sua continuidade. Todos os funcionários foram demitidos e os antigos donos, que têm também uma importante gráfica em São Bernardo, se retiraram do negócio.
Gente ligada ao empresário J. Hawilla, dono da Traffic e da Rede Bom Dia, recrutou alguns dos demitidos, no esquema free-lance, para manter um jornal em circulação ao menos por uma semana, quando se espera que uma decisão definitiva seja tomada.
O destino do Bom Dia ABC é o mesmo do Hoje São Bernardo, que vaga como um fantasma nas bancas de jornal da cidade (será que ainda existe?), pois também foi criado por gente que não é do ramo. Destino previsível, mas lamentável.
É sempre ruim quando uma publicação afunda, ainda mais numa região carente de informação qualificada e ainda dominada, ao menos em parte, por um jornal em franca decadência financeira e editorial, mas ainda com uma marca forte, como o Diário do Grande ABC, que caminha firme e forte para a irrelevância, para se tornar um outro fantasma.
Concorrência é sempre bom, e o leitor ganha com mais opções. Pena que a procura única e exclusiva por lucro fácil e rápido enterre muito rápido as boas ideias.
Torci bastante pelo sucesso do Bom Dia ABC, pois foi um impulso interessante e necessário para investimentos em comunicação. Entretanto, temia pela continuidade justamente pela pouca segurança que o projeto passava.
Havia consistência editorial - de longe era o melhor jornal diário da região - mas o projeto era frágil em termos de conceito empresarial, ainda mais em uma área onde o mercado publicitário é arisco e concentrado. Em resumo, faltava base para manter a ideia a longo prazo.
Com os problemas enfrentados nesta semana, quando esteve à beira da extinção - problema que ainda não foi afastado, pelo contrário - o Bom Dia ABC corre o risco de virar mais um ectoplasma nas bancas.
E o que dizer da revista LivreMercado, fundada e administrada pelo jornalista Daniel Lima, adquirida por Walter Santos, especialista em recuperação judicial com sua empresa Best Works? Em suas mãos, houve mudança gráfica e de projeto editorial, o que piorou o produto, que também perdeu relevância.
Agora pertence ao grupo que edita o Hoje São Bernardo, o que nos faz supor que possa ter o mesmo destino do jornal do grupo que um dia foi diário: a irrelevância.
A imprensa brasileira sempre foi palco para a exibição de aventureiros ou de gente interessada em fazer do veículo de comunicação apenas um “facilitador” para outros negócios. Geralmente os aventureiros não duram muito e acabam saindo do negócio.
O empresário baiano Nelson Tanure é um exemplo. Fez fortuna atuando em diversas áreas, especialmente na área de transporte marítimo e de estaleiros.
Com um estilo agressivo e contrário às leis trabalhistas – diz a quem quiser ouvir que não acredita na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) – adquiriu empresas quebradas, isolou a parte podre e sugou ao máximo a parte saudável.
Tanure montou um pequeno império de comunicação, com jornais, revistas e editoras, império este que está se esfarelando – o octogenário Gazeta Mercantil, que foi o mais importante jornal de economia da América do Sul, morreu em suas mãos em maio de 2009; o Jornal do Brasil é apenas um fiapo de sombra do que já foi.
Comunicação, definitivamente, é um setor hostil aos aventureiros.
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