Ainda dá para resgatar o Mercosul
O Mercosul ainda serve para alguma coisa? A julgar pelo que diz o candidato a presidente José Serra (PDSB), parece que não. Talvez por falta de conteúdo de sua candidatura, um mero comentário feito a um jornalista se transformou em “plataforma de política externa de um eventual governo tucano”.
Criticar o governo boliviano é do jogo, afinal, não são poucos os que qualificam a administração de Evo Morales como ruim e até desastrosa - ou seja, está na média, a julgar pelos últimos 50 anos na Bolívia.
Só que qualificar o governo Morales de conivente e até cúmplice de crimes de tráfico de drogas e armas para o Brasil é demais. Até mesmo acusar o vizinho de leniente é forte, quanto mais de cumplicidade. Desnecessário dizer que o candidato tucano não tem provas, o que o torna leviano e nenhum pouco confiável.
Entretanto, a discussão serviu para jogar luz ao pantanoso terreno das relações comerciais e diplomáticas entre os países da América do Sul. O Mercosul ainda serve para alguma coisa?
Não só não serve como desconfio que ele nunca existiu. Vai completar 20 anos em 2011 mais como uma peça de marketing do que realmente um bloco econômico integrado. A chegada de Venezuela, Bolívia e Chile só piorou o quadro.
O fato é que cada país implanta a política aduaneira e de impostos que bem entende. A Argentina decidiu neste mês proibir a importação de comida e simplesmente nem consultou ou comunicou os parceiros. Vinte anos perdidos são muita coisa.
O Mercosul é uma boa ideia que nunca saiu do papel e parece que dificilmente vai sair. Uma pena, pois todos os países só teriam a ganhar.
Para quem duvida desse cenário desolador é só ler o livro “Mercosul e a Integração Regional”, do embaixador Rubens Barbosa, que foi o negociador-chefe do Brasil durante as reuniões que culminaram com a assinatura do acordo em 1991.
Em nenhum momento Barbosa usa a palavra fracasso para descrever o bloco, mas o tom de lamento e de queixa não deixa dúvidas sobre sua opinião sobre a questão.
Partindo do princípio de que de que o Mercosul é quase uma ficção, então o próximo presidente brasileiro terá de decidir, já que é o sócio-majoritário: ou acaba de vez com o que muitos acham que é uma farsa, ou força a integração dos países meio que na marra, dando uma razão para o bloco existir.
A ideia do Mercosul e merece mais uma chance, mas sem paternalismos e politicagens de apadrinhamento que sempre marcaram a diplomacia brasileira em relação aos vizinhos sempre hostis comercialmente.
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