O repórter que morou nas ruas de São Paulo conta o que viu e o que viveu - parte 3
Eduardo Ribeiro(*)
da coluna Jornalistas e Cia, publicada no site Comunique-se
Chá quente – No hotel, eu e o outro colega estávamos com a barba por fazer, mal vestidos e mal cheirosos. Entramos assim mesmo, sem que ninguém nos perguntasse quem éramos. A moça foi conversar com o funcionário do câmbio. Pediu que entrássemos e esperamos para ser atendidos, sentados em confortáveis poltronas. Numa delas havia uma mesinha com um bule de chá quente, que algum hóspede deixara ali. Meu amigo não hesitou em tomá-lo. Fomos chamados. Na minha vez, o funcionário da casa de câmbio solicitou o CPF e o RG. Tirou uma cópia e, antes de completar a operação, fez uma ligação telefônica.
"Alô, agora não posso mais fazer a R$ 1,77, só a R$ 1,78. Pode ser? Então vou fechar o negócio", afirmou.
Em seguida, imprimiu um papel numa máquina, tirou cópia dos documentos e me pediu endereço com CEP. Inventei um na hora, porque não fui avisado de que me faria tal pedido. Mas ele aceitou minha resposta. Negócio fechado. Devo ter comprado US$ 5 mil para alguém lavar o dinheiro. O funcionário fez a mesma coisa com o outro rapaz e fomos embora. Na porta de saída do hotel, a moça que nos acompanhava nos deu os R$ 15 mais o dinheiro da condução e fomos embora.
É bom que se esclareça que esse tipo de operação é permitida. O Banco Central autoriza que cada pessoa possa comprar, vender ou remeter até US$ 5 mil por mês. Mas no caso em questão, os doleiros e seus agentes que agem no Centro da cidade aliciam dezenas de albergados para a lavagem de dinheiro sujo. Não se sabe se ele vem de contrabando, tráfico de drogas, de desvios de recursos ou do crime organizado. Muitos albergados já fizeram essa operação mais de uma dúzia de vezes. O esquema é antigo e tão bem montado que existe até uma alternativa para quem não tem CPF.
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