O repórter que morou nas ruas de São Paulo conta o que viu e o que viveu - parte 2
Eduardo Ribeiro(*)
da coluna Jornalistas e Cia, publicada no site Comunique-se
Segue o texto de Marujo (1º capítulo da série)
“O esquema é sofisticado e participei, pelo menos uma vez, de uma dessas operações. Negócio fechado. Eu devo ter comprado US$ 5 mil para alguém lavar o dinheiro.
Todos os dias, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo e arredores, bem no Centro da cidade, funciona um esquema muito bem planejado de lavagem de dinheiro sujo, patrocinado por grandes casas de câmbio.
Essas operações são feitas quase o dia todo, mas os horários de pico ocorrem às 11h30 e às 13h30, quando homens agenciados por doleiros aliciam pessoas, na sua maioria albergados, que ficam ali sentados. Esses aliciadores ficam à espera de uma oportunidade para comprar, vender ou fazer remessas de dólares para o Exterior, pagando a cada albergado a desprezível quantia de R$ 15. Como esses albergados não têm dinheiro nem para um cafezinho, se sujeitam a esse tipo de prática, atuando como laranjas.
O esquema é sofisticado. Eu mesmo participei, pelo menos uma vez, de uma dessas operações. Não tinha almoçado, estava com fome, então, me deram a dica. Ainda permanecia bem vivo o meu faro de jornalista.
A operação – Eram quase 14h de uma ensolarada segunda-feira. Fui para a escadaria e, minutos depois, apareceu um homem me perguntando se meu CPF era limpo. Limpo, no caso, significa não ter pendências na Receita Federal. É possível ter o nome sujo na praça, mas um CPF em dia. Além disso, ele perguntou se eu tinha RG e se estava tudo correto. Respondi que sim.
"Então, tudo ok", afirmou.
Fui aprovado para fazer a operação. Nas escadarias do Municipal opera-se, principalmente, para três casas de câmbio: Light, Turismo Dez e Brasileiro. Com esta última é mais difícil, porque ela exige comprovante de residência. Mas há quem venda esse documento no local.
Junto comigo, havia outro albergado que, como eu, estava morrendo de fome. O aliciador pediu que acompanhássemos uma moça grávida (sua irmã) até a região dos Jardins. Até então, não sabíamos exatamente o nosso destino. Nós três pegamos um ônibus (a passagem ela pagou) e descemos na rua Augusta, quase esquina com a alameda Santos. Chegando lá, ela nos contou que deveríamos ir à casa de câmbio que funciona dentro do luxuosíssimo Hotel Renaissance para efetuar a operação com dólares.
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