quinta-feira, agosto 07, 2008

O repórter que morou nas ruas de São Paulo conta o que viu e o que viveu - parte 4

Eduardo Ribeiro(*)
da coluna Jornalistas e Cia, publicada no site Comunique-se


Ano todo – Ele funciona assim: um outro agenciador alicia, de uma só vez, albergados ou desempregados que têm RG limpo. Nesse caso, ele precisa formar um grupo de dez a vinte pessoas. O aliciador leva os RGs, tira cópias e os devolve aos proprietários mediante o pagamento de R$ 10. Só que esses RGs serão usados o ano inteiro para a prática dessas operações de câmbio ilegais.

Bem, eu fui para o Hotel Renaissance. O esquema, porém, conta com casas de câmbio alternativas, em shoppings como o Anália Franco, o Center Paulista, o Interlagos e o Shopping Light. Além desses locais, as operações de lavagem de dinheiro também são feitas em algumas casas de câmbio localizadas no Centro da cidade, como por exemplo nas avenidas São Luís e Paulista.

Outros Golpes – Mas não é todo dia que acontecem as operações de lavagem de dinheiro. Quando não tem negócio para fazer, o aliciador, já conhecido dos freqüentadores, diz que "a barra tá suja" e que a polícia está dando em cima. Fiquei sabendo que, às vezes, para confundir os policiais, o esquema é feito dentro da estação Sé do metrô, bem em frente às catracas. Na região da rua 25 de Março existem vários outros locais de lavagem de dinheiro. Entretanto, outros golpes são aplicados ou tramados nas adjacências. Um deles, muito conhecido dos malandros, é o do aluguel da conta bancária.

Ouvi comentários e perguntei do que se tratava:

"O senhor é albergado"?

"Sim", respondi.

"Tem conta bancária"?

"Não".

"Então, tá fora".

É claro que eu não iria participar desses golpes sujos. Mas como repórter-albergado sentia curiosidade de saber como agiam. Diante de minha insistência em saber o que era, o rapaz me contou.

"O negócio é o seguinte: a gente rouba dinheiro de uma conta bancária, ou das pessoas, e não têm onde colocá-lo. Então, 'alugamos' uma conta-corrente. Por isso perguntei se o senhor tinha uma conta. Colocamos a grana lá. Depois, sacamos o dinheiro e o senhor ficaria com 20% do valor depositado. Esse é o esquema".

Falsificação – Aí fui percebendo que as escadarias do Teatro Municipal se transformaram num grande ponto de golpes e outras contravenções, apesar da constante e ostensiva presença da polícia. Descobri também que há quem "esquente" Carteiras de Trabalho. Isso significa que quem tem carteira, mas nunca trabalhou, ganha uma série de registros falsos, como se já tivesse trabalhado há muito tempo. Outros querem levantar dinheiro para comprar um computador, a fim de falsificar dólares e outros documentos. Nesse tipo de fraude, pelas conversas que ouvi, a concorrência é grande: um se diz melhor falsificador do que o outro. E há vários outros tipos de golpes tramados e executados ali mesmo, nas escadarias do Teatro Municipal.

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