O novo torcedor
O novo torcedor de futebol é mais exigente e gasta mais. Só que quer conforto e ser muito bem tratado. Enfim, o novo torcedor entendeu que é um consumidor, e que está disposto a pagar mais, se for o caso, para ter acesso a um espetáculo decente.
A diretoria do Corinthians deverá anunciar em breve, se é que já não o fez, que vai dobrar o preço dos ingressos das partidas do time nas fases seguintes da Copa Libertadores.
O chamado torcedor comum corintiano já tem hoje poucas chances de assistir a um jogo da equipe no estádio do Pacaembu por conta da política de arrecadação ao extremo de dinheiro.
Parte dos ingressos é destinada às nefastas torcidas organizadas, que sustentam politicamente a diretoria. O restante, a imensa maioria dos bilhetes restantes, está disponível aos torcedores que adquiriram o pacote sócio-torcedor, com privilégios na hora de compra de produtos e entradas.
A política adotada agora pelo Corinthians é a mais exacerbada de uma tendência que é sucesso no Rio Grande do Sul, onde Internacional e Grêmio lotam suas arenas com sócio-torcedores que compram carnês para campeonatos inteiros.
Palmeiras, Santos e São Paulo já seguem essa tendência com mais antecedência e planejamento que a diretoria do Corinthians. No Parque Antártica, estádio palmeirense, uma operadora de cartão de crédito fez a sua experiência pioneira em São Paulo.
“Loteou” uma parte das arquibancadas do estádio e instalou 5 mil lugares numerados, onde o torcedor paga mais caro, mas pode comprar o ingresso pela internet e entrar no estádio apenas passando o cartão de crédito na catraca eletrônica.
Seu bilhete é numerado, ou seja, tem cadeira garantida. É recepcionado por monitores bem treinados e bilíngues e, se quiser, tem acesso a uma lanchonete high tech perto de seu assento, com várias TVs de LCD que transmitem a partida.
A iniciativa foi um sucesso. Deu tão certo que a mesma operadora de cartões de crédito levou a ideia para a Vila Belmiro, estádio do Santos, e para o Morumbi, que é do São Paulo.
Os dirigentes do São Paulo, por sua vez, implantaram um esquema bem interessante de venda de camarotes fechados para empresas ou grupos.
Para isso, teve de reduzir a capacidade do estádio no anel intermediário, mas consegue arrecadação extra que jamais teria se tivesse de vender ingressos das antigas “cadeiras numeradas”.
Muitas vozes do atraso já se levantam e ficam batendo na mesma tecla, a da elitização do futebol, o esporte nacional do Brasil. Com um viés equivocado e ideologizado, esbravejam contra o que chamam de “exclusão” social nos estádios do país.
Pura bobagem. São os mesmos coitados que se calam diante da “elitização” dos teatros brasileiros, com seus ingressos que não custam menos de R$ 60. E que também se calam com ingressos que custam até R$ 25 nos cinemas, hoje enclausurados em shopping centers.
Esse pessoal se esquece que os frequentadores de teatro e cinema atuais não reclamam do preço que pagam, pois sabem que terão conforto, segurança e boas condições de assistir ao espetáculo.
Essas mesmas vozes do atraso também se calam diante do descalabro que se tornou a emissão de carteiras de estudante falsas em todo o país, causando prejuízos a agentes culturais e esportivos.
A tendência do futebol brasileiro de primeiro nível é a já observada na Inglaterra, Espanha e Alemanha e em alguns estádios da Holanda. O espetáculo cresceu, ficou maior, e mais caro. Os clubes precisam arrecadar mais e não podem desprezar a bilheteria.
A Inglaterra mudou a sua cultura futebolística, com a modernização das renas, da profissionalização dos clubes e com o aumento dos ingressos, o que acabou por afastar bandidos, hooligans e desordeiros de toda a ordem.
Não há registros nos últimos 15 anos de insatisfação dos torcedores ingleses com o enriquecimento de seus clubes e da melhora geral no espetáculo. Que seja bem-vindo o novo torcedor.
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