PT 30 anos corre atrás da militância
O aniversário de 30 anos do PT traz um desafio dos maiores para o futuro do partido: reconquistar a militância e a relevância de se fazer uma campanha ideológica com substância e conteúdo.
O poder faz bem às pessoas e organizações. Sabendo administrar, a parte ruim pode ser amenizada e eventualmente escondida. No entanto, quando o poder faz mal expõe o que de pior existe nas relações políticas humanas.
O PT viveu os dois lados desde sempre, desde a primeira campanha eleitoral estadual de Lula, em 1982, desde a eleição de seu primeiro prefeito - Gilson Menezes, em Diadema, no mesmo ano -, desde a eleição de sua primeira prefeita de capital - Maria Luíza Fontenelle, em Fortaleza, em 1985 - e por aí segue.
Ao contrário dos partidos fisiológicos, como PMDB, PFL-DEM e PSDB, só para ficar nos mais gritantes, o PT sempre teve o que aprender e o que ensinar. Virou referência de conteúdo político sério, apesar de barulhento. Não poderia ser de outro jeito em um cenário político dominado por elites e oligopólios mais interessados em seus próprios negócios.
O partido caminhou com referência da ética e da moralidade, mesmo com os pecadilhos denunciados aqui e ali por uma imprensa hostil e frequentemente inquisidora - não necessáriamente mentirosa, embora as mentiras representem parte da história impressa dos principais jornais em relação ao partido.
O PT que chega aos 30 anos é um partido que se modernizou e que se livrou, ao menos por enquanto, do ranço radical que permeou seu discurso por anos. Conseguiu agregar muito mais do que desagregar.
A depuração foi necessária para que o partido sobrevivesse como unidade e como projeto, coisa que nem PSOL nem PSTU são e jamais serão. O PT tem estofo, tem grife e tem estatura para garantir a presença de parte expressiva da população no discurso político do Brasil.
O PT conseguiu mostrar que havia outro caminho ao Brasil sem necessariamente romper com a ordem econômica - correria o risco de inviabilizar qualquer projeto de governo. O PT ganhou muito mais do que perdeu em 30 anos. Aprendeu bastante, mas ensinou muito mais.
O partido que completa três décadas às vésperas de sua segunda eleição mais importante - a primeira sem Lula como cabeça de chapa para presidente - tem o desafio de sobreviver sem o grande líder no Palácio do Planalto e de dar suporte a uma candidata presidencial ainda sem estofo e sem carisma.
Para chamar a militância de volta e evitar o que se viu nas últimas eleições municipais e estaduais - gente paga tremulando bandeiras e distribuindo propaganda, coisa inimaginável nos anos 80 -, será preciso muito mais do que o apelo de Lula.
Será necessário melhorar o discurso, melhorar a qualidade das lideranças do partido e aprofundar as raízes trabalhadoras do partido, cada vez mais dominado por uma casta de líderes que há muito tempo estão na política e que asfixiam gente nova que quer fazer parte da cúpula.
Mais do que isso, o partido terá de se virar sem Lula e encontrar uma maneira de amenizar ou encerrar a dependência que tem da imagem esmagadora que o atual presidente construiu e que colou à do partido.
Por isso é fundamental a volta da ideologização da campanha sem cair na armadilha do radicalismo do discurso radical, cujas ideias já estão sepultadas desde a queda do Muro de Berlim. Só assim será capaz de novamente mobilizar uma militância jovem e capaz de carregar o partido nas costas, como sempre aconteceu.
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