Che e a imensa força do marketing
Marketing é uma das três áreas mais fascinantes das ciências humanas. Assim como a política, é uma ferramenta presente 24 horas por dia na vida das pessoas, qualquer pessoa - e frequentemente são pouquíssimos os que se dão conta disso.
Armei-me de fôlego e paciência para conseguir assistir as duas partes do filme “Che”, do ótimo cineasta Steven Soderberg e estrelado pelo igualmente ótimo Benicio Del Toro, ganhador do prêmio de melhor ator do Festival de Cannes pelo papel.
Esperava uma fita muito ruim, coalhada de clichês e ovações gratuitas ao personagem histórico. Surpreendi-me ao ver uma obra relativamente equilibrada e distanciada - até onde isso é possível em se tratando de Che Guevara, astro e rosto principal da Revolução Cubana de 1959.
Deliberadamente o roteiro e a direção evitam a polêmica e os temas mais pesados, de certa forma atenuam os fracassos políticos e militares - compreensível, afinal esse não era o foco do filme, que merece ser visto pela qualidade da direção e pelo esmero da produção.
Assim como o que de melhor foi produzido em termos de biografias, o filme ajuda a reforçar o mito em torno de Che, tornando-o muito mais do que realmente foi. E esse é grande segredo do marketing, muito mais importante do que a propaganda.
O marketing transformou um coadjuvante da revolução em rosto e imagem da mesma, no retrato magistral do fotógrafo Alberto Korda estampado em camisetas e tatuagens.
O coração e a alma estavam em Fidel Castro, Raul Castro e o núcleo central do comando da revolução. Mas a imagem é a do médico argentino agregado ao comando da revolução, que teve pífio como ministro e gestor em Cuba e que acabou fracassando nas campanhas revolucionárias do Congo e da Bolívia - isso para não mencionar outros atos desabonadores.
Che Guevara é a prova definitiva de que o marketing funciona. Independente de suas convicções políticas e ideológicas, o fato é que a trajetória do coadjuvante se tornou maior do que a própria revolução cubana e deu esperança de mudanças a pelo menos duas gerações. Negar a sua importância história é brigar com s fatos e com a história.
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