Espaço coordenado pelo jornalista paulistano Marcelo Moreira para trocas de idéias, de preferência estapafúrdias, e preferencialmente sobre música, esportes, política e economia, com muita pretensão e indignação.
domingo, julho 08, 2012
O ano dos cinquentenários do rock inglês
Os Rolling Stones não estão fazendo muita questão de comemorar os 50 anos de criação da banda neste ano, tanto é que inventaram uma conversa de que o cinquentenário tem de ser comemorado em 2013, a data verdadeira – Charlie Watts entrou na banda somente no começo de 1963. Mas o fato é que Jagger, Richards, Watts e Wood continuam sendo a banda de rock mais antiga em atividade ininterrupta.
Se os Stones fingem não dar boa para a data, outras bandas pretendem comemorar. É o caso do Status Quo, gigante britânico dos anos 60 e 70 que mistura rock pesado e o típico boogie woogie norte americano.
Com apenas uma interrupção das atividades entre 1984 e 1986 – a banda chegou a acabar –, o Quo decidiu comemorar seu cinquentenário com a reunião da formação original: Francis Rossi e Rick Parfitt (guitarras e vocais), Alan Lancaster (baixo) e John Coglan (bateria). A última vez que os quatro tocaram juntos foi em 1981, quando do lançamento e turnê do álbum “Never Too Late”, de 1981.
A formação atual, no entanto, continuará a coexistir com o agrupamento nostálgico, que vai gravar CD com músicas inéditas e realizar uma turnê inglesa ainda neste ano.
Parfitt (esq.), Lancaster e Rossi em ação na Inglaterra no final dos anos 70
Por outro lado, quem tem pouco a comemorar em seu cinquentenário são os Kinks. Outra instituição britânica e também gigante do rock – bem maior do que o Quo –, o grupo está parado desde 1996, depois de mais uma interminável desavença entre os irmãos Ray e Dave Davies.
Entretanto, parece que desta vez a coisa é bastante séria, pois desde então os irmãos não se falam. Ray Davies lançou apenas três álbuns nos últimos 15 anos e sempre que pode descarta qualquer tipo de reformulação da banda. Não bastasse isso, diz ignorar o cinquentenário de fundação.
Gestado em 1962 e moldado definitivamente em 1964, os Kinks se tornaram os principais cronistas e críticos do cotidiano inglês dos anos 60 e 70.
Ray e Dave, acompanhados do baterista Mick Avory (que chegou a tocar por muito pouco tempo no início dos Rolling Stones, para ajudar o amigo Brian Jones até que Charlie Watts decidisse entrar para a banda) e do baixista Pete Quaiffe, eram mestres em criar melodias grudentas e harmonias complexas em composições que mesclavam o pop das emissora de rádio com as tradições folk da canção típica inglesa.
As letras de Ray desde cedo se tornaram o diferencial da banda em relação aos então concorrentes diretos – Stones, Who e Animals, todos bebendo direto na fonte do blues e do rhythm and blues.
Formação dos Kinks em 1964; Ray Davies é o último à direita; Dave é o segundo da esq. para a dir.
Ele foi o primeiro compositor britânico a investir pesada e prioritariamente em pequenas histórias, ora dramáticas, ora irônicas, tudo sempre temperado com um humor tipicamente inglês. Tal fato leva muitos historiadores da música a afirmar que a banda nunca foi tão grande quanto seus concorrentes diretos por ser “excessivamente inglesa”.
Apesar disso, Ray Davies e os Kinks criaram uma penca de clássicos dos mais importantes do rock, como “You Really Got Me”, “All Days and All of the Night”, “Tired of Waiting for You”, “Lola”, “Where Have All the Good Times Gone”, “Celluloid Heroes” e muitos outros.
Outro monstro inglês também está completando 50 anos da data de sua gestação, embora tal fato cause irritação em seu líder. The Who começou a surgir em 1962 quando o guitarrista Pete Townshend entrou para a banda The Detours, liderada por um guitarrista baixinho e briguento chamado Roger Daltrey.
Townshend chegou a tocar em algumas bandas de jazz e em uma delas conheceu um garoto chamado John Entwistle, que tocava instrumentos de sopro e eventualmente guitarra e baixo.
Diante da indigência musical dos Detours, Townshend foi tomando conta do pedaço e dois meses depois convidou Entwistle para ser o baixista, após ter convencido Daltrey a muito custo.
Tanto Townshend como Daltrey desconversam sobre o assunto cinquentenário em 2012. Ambos consideram 2014 o ano verdadeiro e “oficial” dos 50 anos.
Formação original do Who: da esq. para a dir., Daltrey, Moon, Entwistle e Townshend
Foi naquele ano que os Detours se tornaram The Who, depois High Numbers para se decidirem por The Who assim que acertaram a gravação do primeiro single e a entrada do baterista Keith Moon, então às vésperas de completar 18 anos, no lugar do cansado e pouco entusiasmado Doug Sanden, que era bem mais velho que os outros integrantes.
No meio musical de Londres, dá-se como certa a existência de planos em andamento pelo Who para comemorar com estilo o cinquentenário da banda em 2014, planos esses mantidos em sigilo – daí o mau humor dos integrantes em comentar o suposto cinquentenário neste ano.
Seja como for, aparentemente nada indica que o Who esteja planejando algo. Townshend está às voltas com o lançamento de sua autobiografia, adiado para o segundo semestre, e com a ópera-rock “Floss”, que ele não sabe ainda se vai lançá-la em 2013 como obra solo ou da banda.
Daltrey, por sua vez, irritado com a parada proposta por Townshend, se uniu a Simon, irmão de Pete e guitarrista de apoio do Who, para estender a turnê europeia e norte-americana que reproduz na íntegra a ópera-rock “Tommy”, clássico do Who de 1969.
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