Espaço coordenado pelo jornalista paulistano Marcelo Moreira para trocas de idéias, de preferência estapafúrdias, e preferencialmente sobre música, esportes, política e economia, com muita pretensão e indignação.
terça-feira, janeiro 03, 2012
“Tommy”, a maior obra de Ken Russell
A morte do cineasta inglês Ken Russell, no final de novembro, aos 84 anos, foi registrada protocolarmente pela imprensa internacional e mais ainda pela brasileira. Mas, por incrível que pareça, o único grande veículo que tratou a notícia com o devido respeito e que mencionou o seu principal trabalho, a versão cinematográfica da ópera-rock “Tommy”, do Who, foi a TV Globo, no Jornal Nacional e no Jornal da Globo.
Sites, jornais e revistas citaram várias obras importantes de Russell, mas ignoraram a principal.
“Tommy”, filmado a partir do final de 1974 e lançado em 1975, lançou as bases de como fazer um filme musical baseado em rock sem ficar preso a conceitos engessados do estilo norte-americano – ou cair no extremo oposto, o da chatice de “Hair”, que segue, em grande parte, um modelo calcado na Broadway, mais teatral e menos visual.
A obra-prima do Who, com o conceito elaborado pelo guitarrista Pete Townshend, que também compôs 90% do álbum duplo, foi totalmente absorvido pelo visionário Russell, que não hesitou em colocar astros de rock para estrelar o filme. Roger Daltrey, cantor do Who, fez o papel principal, o do garoto cego, surdo e mudo traumatizado pelo assassinato do amante da mãe pelo pai supostamente morto e que, após um milagre, vira um astro do fliperama (pinball) e líder religioso.
Eric Clapton aparece cantando a faixa “Eyesight to the Blind” no papel de um pregador, tendo os outros três integrantes do Who como “banda de apoio” e assistentes. Keith Moon, o baterista da banda, aparece como o tio Ernie, cruel e mau. Tina Turner deu um show como a prostituta Acid Queen na faixa homônima, e Elton John se destacou mais ainda como o desafiante de Tommy no campeonato de fliperama em “Pinball Wizard”. Para dar segurança nos papéis mais dramáticos, como os pais de Tommy, dois atores consagrados, o inglês Oliver Reed e a sueca radicada nos Estados Unidos Ann-Margret, que não fizeram feio cantando. Jack Nicholson fez uma ponta como um médico.
Capa da obra do grupo inglês
“Tommy” foi um sucesso estrondoso no cinema e influenciou diretamente na estética de “The Wall”, de Alan Parker, lançado em 1982, e “Quadrophenia”, de 1979, também baseada em um álbum duplo do Who.
Ken Russell ainda quebrou outros tabus no cinema europeu, como abusar da linguagem conhecia como pop-art, exagerar deliberadamente na violência e utilizar o nu frontal masculino em um filme. Foi indicado ao Oscar de melhor direção, em 1969, por “Mulheres Apaixonadas”, seu filme mais aclamado até então. “Vamos com Calma”, de 1962, foi citado por outro gênio, Stanley Kubrick (“2001″, “Larana Mecânica”), como uma das suas maiores influências
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