Não é só nostalgia
Márcio Paula Moraes
Antigamente quando um colega comprava um disco era muito comum a turma se reunir na casa de um outro para todos passarem a tarde ouvindo o disco. Não só ouvindo, mas lendo os encartes, olhando os detalhes da capa, comparando as faixas, tentando identificar qual a melhor música, qual o melhor lado: A ou B, observando os solos de guitarra, o baixo, a bateria, as letras, o tamanho das faixas, enfim a cada sucro do disco havia uma conferência, um dessecamento em torno daquele ritual que nada mais era do que curtir um bom disco de vinil.
Era assim que as pessoas iam conhecendo as músicas, as bandas; compartilhando uns com os outros o prazer de curtir um som. O disco nunca foi um produto barato. Até por isso as descobertas se davam justamente nesses dias em que o pessoal se reunia para ouvir e conhecer. Enquanto um trazia um LP dos Led Zeppelin o outro colaborava com um do Deep Purple, o outro arriscava com um do Yes, e havia aquele que aparecia com um do tipo Roxy Music. Era interessante porque, embora tivesse um cara que não gostasse de um determinado estilo ou gênero, nunca deixava de ouvir e conhecer. Mais curioso ainda é perceber que, às vezes, quando ouvimos uma música, não gostamos pelo fato de não estarmos atentos à ela. Mas depois de um certo tempo aquela mesma música encaixa muito bem em nossos ouvidos. É como ler um livro sem estar pronto para entendê-lo.
A música assim como a literatura produz um efeito bastante peculiar a ambas: para gostar e entender de certos estilos e gêneros é preciso amadurecimento do conhecimento, isto é, sem ampliar o horizonte a pessoa fica limitada a mesmice de sempre.
Hoje, com a internet facilitando (?) tudo na vida, as pessoas se limitam a baixar arquivos MP3, infestar celulares ou iPods com uma quantidade absurda de músicas (estranhamente nunca ouvidas do início ao fim) e sem obter conhecimento de nada do que se está ouvindo. É incrível como tudo isso é perecível e não produz nada de conhecimento!
A música – especificamente mais o rock - perdeu o valor de sentido, de significado. Observe que é muito comum – e é bastante provável que o mesmo aconteça com você agora, que está lendo esse artigo - quando alguém na casa dos 40 anos (ou mais) ouve uma música dos Beatles ou do Pink Floyd ou do Black Sabbath ou do Queen etc. dizer que a tal música a faz lembrar dos “meus bons tempos...”
O rock n roll não produz mais seguidores porque perdeu o sentido da rebeldia, da transgressão. Mick Jagger, Keith Richards, Charles Watts, David Gilmour, Roger Waters, Fred Mercury, Janis Joplin, Jemi Hendrix, David Bowie, Brian Ferry, Brian Eno, Dio, Ozzy Osbourny, Tommi Iommi, Ian Gillan, Ian Anderson, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, Peter Gabriel, Phill Collins, Elton John, Bob Dilan, Elvis, Chuck Barry, Robert Plant, Jimmi Page… Nossa, são tantos! A maioria está na faixa dos 65 anos! E outros tantos até já se foram. Esses escreveram a história do rock que faz parte da memória de milhões de pessoas em todo o mundo.
Embora a internet possa dar (quase) tudo, chego a ter pena dessa nova geração que não conheceu toda aquela magia. Tudo bem que tudo isso é pura nostalgia. Mas não dá para aceitar que alguém escute a música de uma banda sem saber ao menos escrever o nome dela, quero dizer, da banda.
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