Prefiro acreditar no rock e em papai noel
O Cinemin é um dos melhores bares de São Bernardo na atualidade e é um reduto de gente inteligente. É frequentado por artistas, jornalistas, estudantes e profissionais liberais que gostam de boa comida, bebida de qualidade e muita música da melhor que existe.
Uma semana atrás, em uma mesa barulhenta recheada de intelectuais de boteco (no bom sentido), um deles narrava um episódio no qual perdera a namorada mais bonita que tivera em sua vida.
O professor cinquentão narra que no começo dos anos 80, ainda na faculdade de letras, conseguiu conquestar a mais bela garota da escola.
A ponto de se apaixonar, investiu no namoro sério, que já durava três meses, até que ela insistiu ipara fosse visitar a família, toda instalada em uma pequena cidade do interior, na região de São José do Rio Preto.
Após cinco horas de viagem de carro sob um calor senegalesco, chegou ao vilarejo que alguns chamavam de cidade e verificou que a família da moça era o que havia de mais conservador e retrógrado. Algo lhe dizia que o final de semana não iria acabar bem.
E ele nem chegou ao final do final de semana. Se no sábado foi tratado com cortesia, apesar da desconfiança dos pais e dos tios da menina, a situação ficou ruim à noite.
Empolgou-se com a pinga de alambique servida por um dos cunhados e pouco se lembra de como foi parar na cama para dormir, já de madrugada.
Às 6h30 de domingo, foi acordado de forma brusca pelo sogro. A família toda, sem exceção, deveria estar às 7h na igreja matriz para a missa, como em todos os domingos. Ainda meio zonzo, achou que fosse brincadeira.
Diante da insistência do sogro, e completamente abobado, irritou-se e mandou sem pensar: “Diga-me sinceramente um único motivo para ir a uma missa, seja a hora que for? O que é que vou fazer numa missa?”
A manhã nem bem terminou e ele já estava na rodoviária, prestes a embarcar para São Paulo, devidamente convidado a se retirar da cidade pelo já ex-sogro e por um séquito de amigos comedores de hóstia do ex-sogro. O ateísmo latente do professor acabou com o namoro com a mais bela mulher que conquistara.
A história surgiu coincidentemente no mesmo final de semana em que a Folha de S. Paulo trouxe uma interessante entrevista com o filósofo americano Daniel Dennett, ateu convicto e que lamenta o “obscurantismo de parte da população norte-americana, que sataniza os ateus da mesma forma que os homossexuais eram discriminados e hostilizados nos anos 50 e 60″.
Dennett vai mais além. Afirma que tentar conciliar biologia evolutiva com religião e crença em Deus é um ato de desespero intelectual. “As pessoas têm de aprender a conviver com os sem-Deus”.
Nada mais atual e inteligente. Religião, qualquer uma, é estelionato intelectual e não serve para absolutamente nada. Acreditar em Deus e em papai noel é a mesmíssima coisa. Só que defender tais ideias em um país com forte apelo religioso como é o Brasil é crime.
O brasileiro está ficando menos racista e está tolerando cada vez mais as diferenças, sobretudo as sexuais. Mas ainda é incapaz de entender e respeitar a tribo dos sem-Deus. Triste isso. É mais um sintoma de terceiromundismo, subdesenvolvimento e inferioridade intelectual em relação ao primeiro mundo.
Ir à missa e rezar é pura perda tempo. Prefiro perdê-lo ouvindo heavy metal e lendo “Deus, um Delírio”, livro do filósofo inglês Richard Dawkins, o principal intelectual da atualidade a espancar as religiões e a ideia da existência de um ser supremo.
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