A tempestade chegou
A marolinha está virando furacão. Aquilo que todo mundo temia aconteceu em janeiro: uma grande montadora inicia demissões e provavelmente puxará a fila de outras, que só esperavam o momento em que alguém cortasse na folha para colocar a tesoura em ação.
As quase 800 demissões realizadas pela General Motors em São José dos Campos, na verdade, apenas escancarou o que acontecia sem que o país percebesse – ou fingia não acontecer: a queda progressiva no nível de emprego industrial, vitais para a manutenção da economia girando.
Em dezembro, por exemplo, estima-se que 600 mil trabalhadores foram dispensados. No setor de máquinas, foram 1,3 mil demissões no mês passado. No setor de autopeças, há risco iminente de perda do emprego para pelo menos 3 mil trabalhadores na Capital.
Será que é possível manter a cabeça fria diante do derretimento do emprego industrial neste janeiro tenebroso? Será que os fantasmas da década de 90 vão nos assombrar em 2009? E como isso afeta os prefeitos recém-empossados na Grande São Paulo, especialmente no ABCD?
O sinais da crise estavam escancarados desde meados do ano passado, mas infelizmente a maioria dos agentes econômicos se recusou a admitir que a tempestade estava próxima.
Executivos públicos, líderes setoriais do empresariado e até mesmo sindicalistas ficaram inebriados com quase três anos de conquistas e bom desempenho econômico e aparentemente ficaram paralisados diante do tempo ruim que se aproximava – ou então, o que é criminoso, simplesmente fingiram que nada acontecia.
Sem guarda-chuva ou abrigo decente para passar pela tormenta, sobraram ressentimentos e rosnados, além de muita incompetência na condução da reação à crise. Desde a “simples marolinha” até a “passagem suave pela crise”, todo o Brasil assistiu de forma passiva à chegada, muito rápida, dos efeitos da crise financeira mundial.
Os juros continuam extremamente altos, as medidas de desoneração tributária em vários patamares demorou – e quando veio, foi insuficiente para estancar a enxurrada de pessimismo.
Por fim, a facilitação de acesso a crédito por parte das empresas não atingiu o objetivo primordial, que era manter o nível de emprego industrial. Grandes empresas que esbravejaram pedindo ajuda financeira e redução de impostos – coisas que efetivamente ocorreram – simplesmente debocharam do governo federal e demitiram sem a menor cerimônia, numa provocação sem precedentes na história econômica brasileira.
O fato é que uma sucessão de erros e omissões ocorridas a partir do segundo semestre de 2008 colocam em xeque os bons resultados que o país obteve desde 2006. A onda de pessimismo é justificada, e nada indica que poderá ser debelada antes de julho.
As consequências desabaram sobre os trabalhadores, que neste momento são reféns das “condições do mercado”. Os sindicatos estão em clara desvantagem. Pouco fizeram para recuperar o prestígio e a importância que tinham nos anos 80 e começo dos anos 90.
Hoje essas entidades precisam não só recuperar o prestígio, mas se mostrar relevantes para os desafios trabalhistas do século XXI. Enquanto isso, resistem como podem às investidas empresariais contra direitos e benefícios dos trabalhadores.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, não tem vergonha de afirmar que exige dinheiro público para salvar empresas sem ter de dar satisfações e sem dar a mínima garantia de emprego. Insiste na flexibilização de direitos, como redução de jornada de trabalho com redução salarial e suspensão de contratos de trabalho.
E os sindicatos estão com dificuldades para enfrentar os adversários. apostar no pragmatismo e flexibilizar direitos para eventualmente garantir empregos? Ou radicalizar e tentar impedir qualquer mexida nos salários e benefícios? Tempos difíceis...
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