quinta-feira, agosto 20, 2020

Omissão do Estado obriga setor da cultura a recorrer a empresas e doações

Marcelo Moreira




O governo federal ignora a crise devastadora que devasta o setor cultural, mas faz questão de se intrometer onde não é chamado, como no caso da escolha do filme brasileiro que concorrerá ao Oscar. 2021.

Mário Frias, o desconhecido e despreparado secretário da Cultura do Ministério do Turismo, entrou em contato com a diretoria da Associação Brasileira de Cinema, responsável pelas indicações, reivindicando que as escolhas estejam "alinhadas" com o pensamento do governo nefasto de Jair Bolsonaro.

Diante dessa imbecilidade, foi solenemente ignorado, sem falar que o secretário foi ridicularizado pela imprensa e por agentes culturais sérios.

Nada surpreendente vindo de um governo que tem a cultura como inimiga e que não faz nenhuma força para acelerar a ajuda emergencial para trabalhadores do setor e artistas, bem como equipamentos culturais.

A aprovação da Lei Aldyr Blanc, que prevê R$ 3 bilhões em ajuda ao setor, está encalacrada na burocracia e pode somente chegar aos bolsos de quem precisa no ano que vem, quando será tarde demais.

Para tentar minimizar a crise, artistas se cotizam e se juntam para criar financiamentos coletivos, doações e festivais colaborativos na internet, meros paliativos que estão longe de abraçar as necessidades de artistas e profissionais sem renda.

Entre as empresas, a Natura decidiu apoiar o segmento com um projeto louvável vinculado à
Natura Musical, plataforma de cultura da Natura.

Com foco em inclusão, diversidade e impacto cultural, social e econômico positivo, a empresa criou um programa que pretende disponibilizar R$ 8,5 milhões de reais para iniciativas de economia criativa, frutos da combinação de recursos próprios da marca com investimentos via leis de incentivo estaduais.

"A cultura tem um papel fundamental na construção de um mundo mais bonito, cada vez mais plural, inclusivo e sustentável. Em momentos de crise, a cultura é decisiva para enfrentar o caos, reconstruir o tecido social e ajudar a projetar o futuro", explica Fernanda Paiva, principal executivo da Global Cultural Branding, que participa do projeto.

Para a revisão e criação de categorias, formatos de projetos e critérios que guiarão o Edital Natura Musical 2020, a plataforma trabalhou em conjunto com um time de profissionais do mercado da economia criativa.

Segundo Paiva, as diretrizes consideram novas perspectivas sobre impacto e recuperação do ecossistema da música, critérios de inclusão, representatividade e acesso, além de relevância, inovação e novas linguagens e tecnologias - as principais diretrizes estão no Instagram - clique aqui para saber mais.

Já que as verbas federais da Lei Aldyr Blanc estão esbarrando em uma série de entraves e legislações estaduais e municipais, a Natura correu atrás de soluções locais e fez parcerias com os fundos de cultura estaduais de Minas Gerais, da Bahia e do Rio Grande do Sul.

Essas iniciativas possibilitarão a doação de verbas incentivadas para ações de formação, capacitação e impacto cultural nas comunidades que estão inseridas.

O investimento, gerido pelas Secretárias de Cultura dos estados, será direcionado a projetos e iniciativas de âmbito regional, que muitas vezes encontram dificuldades de receber os benefícios provenientes das leis de incentivo.

O Edital Natura Musical receberá inscrições de projetos em âmbito nacional e terá seleções regionais na Bahia, com a Lei Faz Cultura; em Minas Gerais, com Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais; no Pará, com a Lei Semear; e no Rio Grande do Sul, com a LIC. Ao todo, o Edital Natura Musical distribuirá R$ 8,5 milhões de reais, sendo R$ 1,5 milhão para a projetos de todo o Brasil; R$ 1 milhão para Minas Gerais; R$ 1 milhão para a Bahia; R$ 1 milhão para o Pará ; R$ 1 milhão para o Rio Grande do Sul. As doações aos fundos de cultura têm valor total de R$ 3 milhões, repartidos igualmente entre Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul.

"Acreditamos que quando temos a ambição de tornar o mundo mais bonito, é necessário ter em perspectiva que esse é um processo de médio e longo prazo. Então, ao olhar a trajetória do Natura Musical, sabemos que estamos no caminho correto em busca de uma mudança efetiva", diz Fernanda Paiva.

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