Espaço coordenado pelo jornalista paulistano Marcelo Moreira para trocas de idéias, de preferência estapafúrdias, e preferencialmente sobre música, esportes, política e economia, com muita pretensão e indignação.
terça-feira, julho 17, 2012
São Paulo não comporta eventos gratuitos de grande porte
Eventos gratuitos na cidade de São Paulo com atrações de peso estão se tornando um tormento para organizadores, público e população em geral. O show gratuito da banda inglesa Franz Ferdinand no Parque da Independência, no bairro do Ipiranga, teve cenas dignas de brigas de torcidas organizadas de clube de futebol e policiais militares: pancadaria, bombas de efeito moral e gás de pimenta para conter o tumulto.
E por que houve tumulto? Porque teve gente que não conseguiu entrar no parque onde fica o Museu do Ipiranga. Em show gratuito quem chega primeiro e antes entra e fica lá na frente. Quem chega depois não entra – se entra, fica no fundo. Simples assim.
No entanto, como já virou rotina na cidade de São Paulo, quem não consegue entrar se sente “lesado” e “traído” e resolve causar tumulto. Em eventos pagos, ainda que tenham razão (caso tenham pago ingresso e não consigam entrar por graves problemas de organização e fraude), os supostos prejudicados jamais têm o direito de quebrar tudo e causar tumulto.
A rotina dos que não conseguem entrar de protestar quebrando tudo ocorre em jogos de futebol, casa de show e até no Metrô. Quebrar tudo parece ser a solução para os males diversos de nossa sociedade.
Algo não ia bem no Parque da Independência já por volta das 13h30, quando a fila para entrar dobrava a esquina e subia pela rua Bom Pastor até a outra esquina, com a rua dos Patriotas – uma fila de estimados 700 metros.
Fãs subiram em árvores e se equilibraram em grades para tentar ver o show do Franz Ferdinand. Outros tentaram invadir pulando as cercas e forçando o portão de entrada, mas foram rechaçados pela Polícia Militar com bombas e gás de pimenta (FOTOS: MÁRCIO FERNANDES/AE)
Às 15h30, a fila não parava de crescer e já ultrapassava o portão do Sesc Ipiranga, na mesma rua Bom Pastor. O fechamento dos portões ocorreu por volta de 17h30, quando a PM e os organizadores julgaram que a lotação quase total já tinha sido atingida.
Foi o estopim da confusão, com tentativa de invasão, gente forçando o portão de entrada e outros querendo invadir pulando as grades em alguns pontos ao redor do parque.
Os policiais não tiveram outra opção a não ser intervir com cassetetes agindo sem cerimônia e gás de pimenta voando sem piedade nos olhos dos fãs que tentavam entrar à força.
E, infelizmente, como ocorre em tumultos envolvendo grande contingente de pessoas, os casos de excesso de força e até de violência são corriqueiros – mistura de policiais despreparados para lidar com multidões e problemas na organização do evento, como falta de planejamento.
Mas há um terceiro elemento complicador para sabotar as tentativas de controle em eventos desse tipo: a falta de educação de parcela significativa de parte do público. Evento gratuito com atração de peso em local fechado é um convite à confusão, justamente por atrair gente demais – e gente demais disposta a entrar de qualquer jeito, nem que seja para criar confusão.
Quando o Parque do Ibirapuera era sede de shows gratuitos promovidos por uma rede de supermercados, incluindo atrações importantes da música brasileira e internacional, foram raríssimos os registros de confusão, justamente por ser um local maior e mais aberto, capa de comportar com folga mais de 120 mil pessoas, como já fora registrado. É assim também no Central Park, em Nova York, e no Hyde Park, em Londres.
Eventos desse porte sem que seja necessário pagar em locais estreitos ou fechados são um convite à confusão. Três anos atrás o guitarrista e cantor Lulu Santos encerrou um festival promovido por uma operadora de telefonia no mesmo Parque da Independência.
Não houve tumulto, mas teve confusão porque lotou cedo demais. A polícia interveio em um tímido protesto em frente ao portão principal e teve trabalho para conter pessoas que tentaram pular a cerca de ferro em diversos pontos do parque.
Na Virada Cultural deste ano também houve problemas em vários locais – nada tão grave como o que ocorreu no Ipiranga no último final de semana.
O show da banda norte-americana de heavy metal /hardcore Suicidal Tendencies atraiu um grande público ensandecido na manhã de domingo e ocorreu o que se esperava, pouca segurança, organização falha, muita briga e até mesmo invasão de palco por parte de parcela do público.
Por sorte não houve maiores consequências. Na verdade, deve-se agradecer ao vocalista Mike Muir, profissional da mais alta categoria e muito experiente, que percebeu logo como estava o ambiente e tratou de levar o show com fúria e peso, mas com muita serenidade e sobriedade para evitar confusões maiores.
Infelizmente é preciso reavaliar a realização de certos tipos de eventos gratuitos em São Paulo. Planejamento corriqueiramente malfeito e público mal educado e pouco afeito a atrações desse tipo estão no topo da lista de contraindicações.
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