Espaço coordenado pelo jornalista paulistano Marcelo Moreira para trocas de idéias, de preferência estapafúrdias, e preferencialmente sobre música, esportes, política e economia, com muita pretensão e indignação.
segunda-feira, janeiro 30, 2012
Ziquito, dos Jordans, um dos pioneiros do rock no Brasil
Houve um tempo em São Paulo que se fazia rock sem saber que aquilo que era rock. E isso muito, mas muito antes de surgirem Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Maia, Jorge Ben, Raul Seixas e toda a Jovem Guarda.
Há historiadores brasileiros que não hesitam em cravar mês, ano e local do nascimento do rock no Brasil: janeiro de 1956, bairro da Moóca, zona leste de São Paulo.
Um baterista, um baixista e dois guitarristas formavam uma banda que se tornaria The Jordans em 1959 e embarcaram na onda da música instrumental que começava a ganhar corpo nos Estados Unidos e na Inglaterra, com lendas como The Shadows, Dick Dale, Link Wray e The Ventures, entre outros. O nome foi inspirado na banda The Jordanaries, que acompanhou Elvis Presley na época por algum tempo.
Um dos integrantes da época de ouro do início do rock no Brasil (e no mundo) foi guitarrista João Salvador Galatti, o Ziquito, que morreu no mês de outubro em Taquaritinga, no interior de São Paulo, aos 69 anos, em consequência de um infarto sofrido no início da semana.
De estilo elegante e econômico, Ziquito tinha prazer em soltar fraseados melódicos enquanto a banda se divertia com as bases bem elaboradas e bem arranjadas, geralmente de sucessos de bandas do exterior, como os próprios Shadows e Ventures. Aliás, Hank Marvin, líder dos Shadows, era uma de suas referências no rock.
Nos cerca de dez anos em que ficou com o grupo, tocou com quase todos os nomes importantes da música brasileira da época – Roberto e Erasmo Carlos, Incríveis, Renato e Seus Bluecaps e outros astros da Jovem Guarda.
Antenado e bem informado, Galatti ouvia bastante Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd e alguma coisa do rock italiano dos anos 60, e tentou sem sucesso convencer os companheiros a mudar o direcionamento dos Jordans, insistindo para que incluíssem um cantor e se adequar à vertente mais pop que crescia no Brasil a partir de 1966.
Ziquito se orgulhava do prestígio que os Jordans obtiveram no exterior e afirmou que parte da banda chegou a se encontrar com os Beatles nos Estados Unidos em meados dos anos 60 (ele não participou desta turnê).
Decepcionado com a manutenção do estilo puramente instrumental deixou a banda em 1970 e começou a se apresentar em bailes no interior de São Paulo com diversos outros grupos musicais de vários estilos, até que se estabeleceu em Taquaritinga.
Para o jornalista Gustavo Girotto, que conheceu o guitarrista em Taquaritinga, Ziquito era uma “pessoa calma e profundo conhecedor da história da música, pois foi parte viva da construção do rock nacional. Mais do que isso, fez parte de uma geração histórica, cujo amor pela música era sua partitura de vida.”
Sobre os Jordans, a banda realizou um grande feito para o incipiente cenário roqueiro brasileiro: em 1961 conseguem uma série de apresentações no programa Ritmos da Juventude na Rádio Nacional de São Paulo, grande celeiro de novos talentos, o que levou aos estúdios. Ainda naquele ano gravam seu primeiro disco um compacto de 78 rpm chamado “Boudha”, e no final de 1961 lançam um LP completo, “A Vida Sorri Assim”.
A formação básica no período de ouro teve Aladim (Romeu Mantovani Sobrinho), Sinval (Olímpio Sinval Drago), Tony (José de Andrade), Foguinho (Waldemar Botelho Júnior), Ziquito (João Salvador Galatti) e lrupê (lrupê Teixeira Rodrigues).
No cinema, participam de alguns filmes, um deles com Mazzaropi, “O puritano da Rua Augusta” (1965), inclusive compondo e executando uma música para a trilha sonora. O grupo se separou em 1975, com uma tentativa frustrada de retorno em 1993, mas que levou a banda a participar de uma série de eventos dois anos depois em comemoração aos 30 anos da Jovem Guarda.
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