sexta-feira, setembro 03, 2010

Civilidade x oportunismo


Três “manifestações” de associações de moradores da Capital neste final de semana chama a atenção para a total falta de espírito público e cívico de “entidades” que se dizem representantes de parcelas importantes da população.

Primeiro foram habitantes do rico bairro de Higienópolis que se armam contra a construção de uma eventual construção de estação de metrô, dentro da expansão da chamada linha 4, que ligará a Estação da Luz à Vila Sônia, próximo ao Morumbi.

Repórteres da Folha de S. Paulo ouviram de alguns comerciantes e moradores que “quem mora em Higienópolis não anda e não precisa de metrô”.

Que beleza, não é mesmo? E quem trabalha para esse tipo de ser execrável, será que não precisa de transporte público? Empregadas domésticas e comerciários que ali trabalham têm carro? Será que os patrões de Higienópolis pagam tão bem assim?

Após a publicação da reportagem da Folha, um jornalista do Estadão, que mora no bairro, narrou o que ouviu em uma cafeteria chique da praça Buenos Aires no último final de semana: “Não queremos esse tipo de gente (pessoas que andam de metrô) andando por aqui”.

A autora da frase era uma perua maquiada e usando casaco de pele, tentando domar seus três cachorros da raça Yorkshire Terrier.

Nos vizinhos Pompeia e Perdizes o alvo é a futura Arena Palestra, o estádio moderno que se supõe que será construído no local onde hoje está o Estádio Palestra Itália, o Parque Antártica.
O movimento de algumas associações é para que o Ministério Público investigue e barre a obra para 45 mil pessoas, alegando que irá inviabilizar a vida e o trânsito na zona oeste.

Já em Moema, os opositores ao aeroporto de Congonhas acordaram da hibernação e prometem mais barulho para fechar o “aeródromo”.

Sobre o nojento e asqueroso caso de Higienópolis, nada a acrescentar a esse episódio lamentável. Nos outros dois, só um detalhe: o aeroporto foi construído em 1936, quando Congonhas era um bairro afastado e desabitado.

O estádio Parque Antártica existe desde 1920, quando havia apenas algumas vilas no local. Portanto, chegaram primeiro. Os bairros, as casas chiques, os edifícios e os shoppings chegaram muito tempo depois.

Quem se estabeleceu por lá já sabia disso, pois é meio difícil deixar de perceber o estádio e o aeroporto. Portanto, ninguém pode reclamar de nada.

Um diretor do Palmeiras, clube dono do Parque Antártica, resumiu bem a questão: “O entorno do estádio ganhou recentemente dois shoppings centers enormes, várias torres residenciais e um complexo comercial e de escritórios gigante na avenida Francisco Matarazzo, e não me lembro de nenhum morador ter reclamado.”

São três exemplos dos mais nefastos de como os interesses privados podem entrar em conflito com as regras mais básicas da civilização.

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