Cada vez menos gente ouve o grito
O tempo não ajudou, é verdade, mas o Grito dos Excluídos, manifestação social que acontece em várias capitais no dia 7 de setembro, teve provavelmente o seu menor impacto neste ano desde que foi criado.
Nos telejornais das principais emissoras, houve notas sem imagem que não ultrapassaram cinco segundos. Quando teve imagem, não teme mais do que dez segundos. Pareceu claramente, em alguns dos noticiários, que eram trechos incluídos apenas para cobrir “buracos”.
Nos jornais, o espaço foi menor do que o de anos anteriores – fiz a comparação rápida das edições dos últimos três anos de Estadão, Folha de S. Paulo, Jornal da Tarde e Diário de S. Paulo.
Nada surpreendente que isso aconteça, por mais paradoxal que seja, já que os movimentos sociais ganharam impulso nos oito anos de governo do PT-Lula.
Um importante líder sindical cutista da capital e filiado ao PT resumiu bem a perda de relevância do Grito dos Excluídos desde o ano passado: “O povo está mais feliz com a melhora econômica dos últimos cinco anos e, com isso, as prioridades mudaram, outros problemas passaram a ser observados”.
Outra observação cirúrgica do sindicalista: a agenda equivocada e ultrapassada que muitos dos movimentos e entidades que integram o Grito dos Excluídos ainda defendem.
A questão não é o mérito ou a importância das propostas, mas a conveniência e a oportunidade de ficar repetindo os mesmos bordões em um mundo em constante transformação e com o partido do governo, que é de esquerda e que caminha para esmagar a oposição tucana em nível nacional, completamente inserido e adaptado a um mundo economicamente globalizando e produzindo cada vez mais riqueza.
Em um momento em que até a ditadura comunista chinesa abraça totalmente o mercado e aposta na produtividade e na geração de riqueza para resgatar 500 milhões de pessoas da pobreza e colocá-las na classe média, soa absurdamente esquisito ainda bradar nas ruas slogans enterrados que pelo tempo e pela história, e que não causam a mínima comoção no público-eleitor em geral.
Na verdade, esse público-eleitor não anda mais interessado nesta plataforma, quando não a ignora ou a despreza.
Enquanto insistem na batida exigência de reforma agrária e na expropriação e limitação de tamanho de propriedades rurais, essas entidades deveriam mais é se aproximar do povo que vive nas cidades, e que representam 80% dos brasileiros e 90% dos eleitores.
O Grito dos Excluídos não pode mais ignorar uma agenda social urbana, onde a favelização aumenta nos grandes centros, a despeito do sucesso da economia do período lulista e da melhora de vida no geral para os brasileiros.
A infraestrutura das cidades grandes é insuficiente na atualidade e negligenciada na maior parte das metrópoles do país, como em São Paulo, administrada por um incompetente, de um partido que nunca esteve comprometido com a população.
A segurança pública é outra área completamente ausente dos brados e slogans no Grito dos Excluídos. É o item que logo vai chegar no topo das preocupações do brasileiro – hoje a liderança é do medo do desemprego, seguida pelo medo da violência.
Portanto, insistir em temas ultrapassados – como a reforma agrária, por exemplo – é se distanciar cada vez mais da realidade nacional e do cotidiano do público-eleitor. Até porque esta questão está praticamente resolvida, principalmente pelos esforços realizados pelo governo federal na gestão de Lula.
O governo petista ultrapassou com sobras os números da era FHC na questão fundiária. Desde 2003, nunca se desapropriou tanto e distribuiu tanta terra no Brasil. Quem recebe terra deixa de ser sem-terra.
Portanto, está faltando sem-terra para continuar justificando a existência dos MSTs da vida, que há muito tempo recrutam mendigos e desempregados nas cidades para continuar existindo e reivindicando. A questão, portanto, se torna meramente político-ideológica.
A população percebeu isso e se desinteressou. A economia vai bem e a pobreza diminuiu no governo Lula, o que justifica o eventual massacre eleitoral que a candidata do PT, Dilma Rousseff, está impondo à oposição.
De forma paradoxal, o sucesso de um governo de esquerda e que tem uma atuação social destacada vai obrigar, mesmo que na marra, movimentos sociais a buscarem novas ideias, novos discursos, novos públicos e novos horizontes. Lula vencem mais essa.
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