quinta-feira, março 26, 2009

O pacote principal ainda não veio


Pacotes habitacionais e financeiros têm efeitos limitados e demorados sobre mercados em crise. A burocracia costuma devorar tempo precioso na concessão do crédito e agentes econômicos, especialmente os bancos, são extremamente conservadores na análise do risco quando a sociedade é a avalista.

Não seria diferente agora, com o mundo do dinheiro farto virtual para a casa própria. E a tendência é de que o dinheiro seja cada vez mais virtual, em razão da falta de arrojo na fiscalização do mercado financeiro pelo governo – qualquer governo, em qualquer país.

A grande pergunta que fica após o pomposo anúncio do pacote da habitação feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva anteontem, quarta-feira, é a seguinte: como é que as pessoas vão poder comprar se o emprego está diminuindo? Sem emprego não se compra casa; não se compra quase nada.

Até agora não se ouviu nada a respeito de um pacotão de emprego. A arrecadação de impostos logo vai cair e o número de empresas quebradas vai explodir. De que adianta liberar dinheiro para comprar casa se o trabalhador estiver desempregado?

Enquanto o governo federal fica refém de discussões intermináveis a respeito da prorrogação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) menor para a indústria automotiva, as demissões continuam, e em ritmo acelerado.

Por mais que as empresas estejam sendo pressionadas pela Justiça, como são os casos da Embraer e de muitas outras, o fato é que essas demissões vão ocorrer. E não medidas decentes sendo estudadas a curto prazo, nem mesmo paliativas.
O grande nó da questão ainda é a carga tributária asfixiante que pesa sobre os contribuintes de todas as categorias no Brasil.

Carga de impostos alta aliada a falta de crédito crônica é uma bomba permanente no colo da sociedade – um governo muito endividado tem de pagar juros altos para conseguir rolar dívidas, fazendo com que bancos e agentes financeiros tenham mais interesse em comprar os títulos desse mesmo governo do que em emprestar ao setor produtivo.

E é quase inacreditável que não consigamos observar sequer um grande economista ou mesmo um executivo público defendendo um pacote generalizado de criação de empregos, que envolva redução de impostos e a criação de contrapartidas do setor produtivo de manutenção de empregos.

Toda a gritaria promovida pelas centrais sindicais e pelos sindicatos em outubro passado surtiu pouco ou nenhum efeito. O dinheiro público que está sendo usado para tentar debelar os efeitos da crise no Brasil está irrigando setores que ainda têm fôlego. Ações pontuais e direcionadas, mas com pouco efeito prático no contexto geral da crise.

É claro que as medidas do pacote habitacional terão efeito sobre a questão do emprego, mas não agora. E o epicentro da crise do emprego é a indústria descapitalizada. Medidas para estimular o consumo de bens duráveis ainda são tímidas, enquanto o nível de emprego continua diminuindo.

É sempre bom lembrar que o emprego industrial é um emprego de mais qualidade, de mais valor agregado, com salários maiores e mais capacidade de consumo. Logo, qualquer impacto da crise sobre a grande indústria é muito mais delicado e danoso.

Os setores de comércio e serviços não têm condições de segurar a onda da desaceleração econômica. Então, volto a perguntar: com o desemprego aumentando, vamos financiar casas para quem?

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