Para pensar - parte 4
Mais Marcha da Maconha: falácias lógicas
A defesa da descriminação das drogas não se exerce sem algumas formidáveis falácias lógicas. Se eu fosse fazer piada, diria que parece argumento de gente sob o efeito da maconha: costuma haver um fosso entre as premissas e a conclusão, típico de quem perde a trilha da objetividade. Vamos a algumas delas:
A – O álcool faz mais mal à saúde e provoca mais mortes do que a maconha
Sempre que se tenta provar que alho é igual a bugalho, o bugalho sai beneficiado, não é? Quando não se distingue a diferença entre o joio e o trigo, o joio sai ganhando. Conhecemos os efeitos, realmente devastadores, do consumo de álcool, uma droga legal (embora ilegal para menores), entre os jovens. Mas me digam aí: já conhecemos os efeitos da massificação do uso da maconha?
B – Então por que não proibir também o consumo do álcool?
Quem faz essa pergunta quer proibir o consumo do álcool ou liberar o consumo das outras drogas? A pergunta é retórica. Já sei a resposta. Logo, é preciso considerar que:
- quem propõe essa questão admite os efeitos nocivos do álcool;
- admitindo os efeitos nocivos do álcool, pede um tratamento isonômico para a maconha;
- sendo um tratamento isonômico, então admite os efeitos nocivos da maconha também;
- se admite, em vez de defender a redução dos danos, está reivindicando a sua ampliação.
- Há falha lógica no que vai acima?
C – O álcool é vendido para menores.
É verdade. Acho que lugar de quem vende álcool para menores é a cadeia. Desde o princípio, estou defendendo a lei, não o contrário.
D – Considerar uma droga lícita ou ilícita é uma questão de convenção
Sob certo ponto de vista, tudo em sociedade é uma questão de convenção: da proibição de certas drogas à interdição do incesto e da pedofilia. Há interdições e liberdades que fazem avançar as sociedades. Há outras que as fazem mergulhar na anarquia e na decadência. Hábitos, costumes, interdições e liberações vão sendo socialmente construídos e criando uma cadeia de valores imateriais, uma verdadeira “cultura”. No caso da pressão — extremamente minoritária, é bom deixar claro — pela liberação das drogas, é essa cultura que salta para o primeiro plano.
Boa parte dos consumidores de drogas acredita firmemente que a substância faz com que tenham uma espécie de “iluminação”, abrindo a sensibilidade para percepções que, de outro modo, não se revelariam. É... Vai ver é o efeito dos neurônios sendo torrados. No Morro do Alemão ou no Jardim Ângela, essa expressão quase poética da droga inexiste. Os valores são outros.
E – Legalize-se a droga, o narcotráfico acaba, e o crime, também
É a mais tola de todas as proposições. O principal fator que alimenta o crime é a impunidade, é a incapacidade de o estado fazer cumprir a lei. Se, um dia, se vendessem cocaína e maconha no bar da esquina, quem hoje se dedica ao tráfico de drogas — porque quer, não porque seja obrigado — passaria a ser operário da construção civil? Médico? Engenheiro? Balconista? Acho que não, né?
Legalizadas as drogas, sem o enfrentamento do crime, os hoje criminosos das “substâncias ilícitas” seriam, se me permitem, “criminosos de outros crimes”. Não é a ilegalidade da droga que faz o criminoso, mas a disposição de não reconhecer o limite que foi socialmente imposto, transgredindo-o. Suponho, aliás, que a facilitação e, pois, a popularização de mais substâncias que alteram a consciência elevariam exponencialmente a prática de crimes.
Essa gente do miolo mole que sai fazendo marcha em defesa da maconha supõe que todos os consumidores de drogas estão apenas em busca de autoconhecimento e do, como vou dizer?, desregramento dos sentidos em busca do “próprio eu”. O único “povo” que esses caras conhecem é o que faz malabarismo em farol. Devem achar que é tudo culpa das “zelite”, como se eles próprios não a integrassem. E aí queimam um baseado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário