Se havia alguma dúvida de que a questão do emprego é crucial no ABCD de hoje, ela não existe mais se observarmos a imensa fila de jovens na frente da Arteb, em São Bernardo, passando a noite em busca de uma vaga de estágio naquela que ainda é uma das principais indústrias de autopeças do país.
O fenômeno não é novo, repete-se todos os anos e rendem boas imagens para os telejornais, com a grande fila de jovens dormindo ao relento na fila para amanhecer com o sonho do primeiro emprego – e o mais duro de admitir, nem emprego é.
O que espanta são dois aspectos que merecem análise e reflexão: a cada ano a fila aumenta mais e mais; e o fenômeno começa a se expandir para outras empresas que mantém programas de estágios e trainees, sobretudo para estudantes que estão em vias de completar o ensino médio (antigo 2º grau).
A obsessão pelo primeiro emprego está levando os filhos da classe média menos abastada a entrar numa roda-viva cada vez mais desesperadora em busca de um futuro, qualquer um.
O estudo começa a se transformarem uma fonte de estresse: os garotos não mais estudam para aprender, estudam para passar e poder trabalhar. É a neurose e a paranóia do vestibular antecipada para a adolescência.
E as famílias do ABCD ainda têm nítida a percepção de que o ensino técnico é mais do que fundamental em um mundo onde a tecnologia é cada vez mais dominante e os empregos industriais são cada vez mais raros e exigentes.
Pode ser um anacronismo, uma coisa fora de moda, mas o ensino técnico ainda é o sonho das famílias que não dispõem – ou que já sabem que não vão dispor – de recursos para colocar (todos) os seus filhos na faculdade. Por isso a oportunidade oferecida pela Arteb é tão concorrida, assim como os cursos do Senai.
Esse aspecto precisa ser levado em consideração pelas administrações municipais e pelo governo do Estado. O ensino técnico pode ser uma forma de amenizar o problema do desemprego na região, hoje em torno de 16% da População Economicamente Ativa – algo em torno de 200 mil pessoas.
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