Espaço coordenado pelo jornalista paulistano Marcelo Moreira para trocas de idéias, de preferência estapafúrdias, e preferencialmente sobre música, esportes, política e economia, com muita pretensão e indignação.
sexta-feira, janeiro 06, 2012
O fantasma dos reajustes de mensalidades escolares
Os pais devem preparar o bolso para o ano que vem. O reajuste das mensalidades escolares pode chegar a quase 20% em 2012, bem acima da inflação medida pelo IPCA, calculado pelo IBGE, que no acumulado dos últimos 12 meses ficou em 6,97%. O problema é antigo, vem desde os anos 70, mas nem governo nem o setor conseguiram encontrar um mecanismo justo e transparente para justificar as discrepâncias na hora de definir o valor mensal.
Os argumentos são bastante variados. Passam pelo “aumento da carga horária e a implementação de algumas disciplinas” – inglês na educação infantil até o 5.º ano e redação e geometria de 6.º ao 9.º ano explicam o reajuste em uma importante instituição da zona sul de São Paulo. Há, entre as escolas, aumentos diferentes em cada etapa de ensino. A justificativa mais comum entre elas são os gastos com salários.
Há até explicações financeiras para justificar o aumento. Uma escola da zona oeste paulistana informou ao jornal O Estado de S. Paulo que “cerca de 85% da receita vai para a folha de pagamento”. A mesma escola também inclui na conta “investimentos em tecnologia, que pesam no orçamento”. Há colégios que já usam tablets em suas aulas, mas assim mesmo o equipamento entra no cálculo para as mensalidades de 2012.
Para o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), os reajustes das escolas consultadas está acima da média. “Índices de 12% a 15% são bem acima do que prevemos”, diz José Augusto Lourenço, vice-presidente da entidade, aos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Ele havia previsto aumentos de 8% a 10%. Lourenço acredita que as escolas que não subirem as mensalidades em pelo menos 10% podem ter prejuízos em 2012.
A questão é que esta é uma batalha inglória para o consumidor. Um grupo de pais que têm filhos em uma escolha de Alphaville, em Barueri, decidiu entrar na Justiça contra um reajuste de 20%. A iniciativa, divulgada pela TV, pode se repetir em outras escolas, mas a insegurança em relação a isso continua.
O Procon-SP costuma atuar na mediação de conflitos parecidos e até mesmo orienta os pais em casos flagrantes de reajustes abusivos. O órgão até sugere que os clientes têm direito a checar as planilhas de custos das ecolas para que possam comprovar a veracidade os argumentos das empresas para reajustar. Na prática, é um milagre convencer os proprietários e mantenedores a abrirem seus caixas. Sendo assim, resta apenas torcer para que a conta não fique muito salgada.
terça-feira, janeiro 03, 2012
“Tommy”, a maior obra de Ken Russell
A morte do cineasta inglês Ken Russell, no final de novembro, aos 84 anos, foi registrada protocolarmente pela imprensa internacional e mais ainda pela brasileira. Mas, por incrível que pareça, o único grande veículo que tratou a notícia com o devido respeito e que mencionou o seu principal trabalho, a versão cinematográfica da ópera-rock “Tommy”, do Who, foi a TV Globo, no Jornal Nacional e no Jornal da Globo.
Sites, jornais e revistas citaram várias obras importantes de Russell, mas ignoraram a principal.
“Tommy”, filmado a partir do final de 1974 e lançado em 1975, lançou as bases de como fazer um filme musical baseado em rock sem ficar preso a conceitos engessados do estilo norte-americano – ou cair no extremo oposto, o da chatice de “Hair”, que segue, em grande parte, um modelo calcado na Broadway, mais teatral e menos visual.
A obra-prima do Who, com o conceito elaborado pelo guitarrista Pete Townshend, que também compôs 90% do álbum duplo, foi totalmente absorvido pelo visionário Russell, que não hesitou em colocar astros de rock para estrelar o filme. Roger Daltrey, cantor do Who, fez o papel principal, o do garoto cego, surdo e mudo traumatizado pelo assassinato do amante da mãe pelo pai supostamente morto e que, após um milagre, vira um astro do fliperama (pinball) e líder religioso.
Eric Clapton aparece cantando a faixa “Eyesight to the Blind” no papel de um pregador, tendo os outros três integrantes do Who como “banda de apoio” e assistentes. Keith Moon, o baterista da banda, aparece como o tio Ernie, cruel e mau. Tina Turner deu um show como a prostituta Acid Queen na faixa homônima, e Elton John se destacou mais ainda como o desafiante de Tommy no campeonato de fliperama em “Pinball Wizard”. Para dar segurança nos papéis mais dramáticos, como os pais de Tommy, dois atores consagrados, o inglês Oliver Reed e a sueca radicada nos Estados Unidos Ann-Margret, que não fizeram feio cantando. Jack Nicholson fez uma ponta como um médico.
Capa da obra do grupo inglês
“Tommy” foi um sucesso estrondoso no cinema e influenciou diretamente na estética de “The Wall”, de Alan Parker, lançado em 1982, e “Quadrophenia”, de 1979, também baseada em um álbum duplo do Who.
Ken Russell ainda quebrou outros tabus no cinema europeu, como abusar da linguagem conhecia como pop-art, exagerar deliberadamente na violência e utilizar o nu frontal masculino em um filme. Foi indicado ao Oscar de melhor direção, em 1969, por “Mulheres Apaixonadas”, seu filme mais aclamado até então. “Vamos com Calma”, de 1962, foi citado por outro gênio, Stanley Kubrick (“2001″, “Larana Mecânica”), como uma das suas maiores influências