Espaço coordenado pelo jornalista paulistano Marcelo Moreira para trocas de idéias, de preferência estapafúrdias, e preferencialmente sobre música, esportes, política e economia, com muita pretensão e indignação.
sexta-feira, outubro 28, 2011
Há dez anos, o 11 de setembro obrigou o Dream Theater a trocar a capa de um CD
Os dez anos que marcaram os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York, que culminaram com a destruição das duas torres do World Trade Center, também foram relembrados pelo mundo do rock pela banda que sofreu diretamente com o impacto do terrorismo. O Dream Theater teve projuízos e refez toda a arte de um álbum triplo ao vivo que foi lançado naquele fatídico dia.
A capa do CD “Live Scenes From Nwe York” trazia imagens da banda ao vivo como pano de fundo para uma imagem de uma maçã pegando fogo envolta em arame farpado (alusão à capa de Live at the Marquee”, de 1993, com um coração em vez de uma maçã) tendo logo acima imagens menores da Estátua da Liberdade e das Torres Gêmeas.
Milhares de cópias com essa capa já haviam sido distribuídas pelo mundo quando os atentados ocorreram, provocando desespero nos músicos e na equipe de suporte do Dream Theater.
A solução emergencial foi tentar recolher o máximo de cópias possível e recolocá-las com outra capa. Muitos fãs conseguiram o CD com a capa original antes do recolhimento – transformaram-se em itens raríssimos e valiosos no mercado. Tive o privilégio de adquirir o álbum com a capa original.
O ótimo site de rock Whiplash relembrou o impacto dos atentados na vida do Dream Theater em um interesante texto escrito por Jairo Cezar e que reproduzimos aqui. Logo em seguida, texto do mesmo site traz uma rápida entrevista feita este ano com o guitarrista John Petrucci sobre os acontecimentos daquele dia. (Marcelo Moreira)
Jairo Cezar
O ano de 2001 seria um ano rotineiro para o Dream Theater. A banda acabara sua grande turnê “Metropolis 2000″ com grandes apresentações do álbum “Scenes From a Memory” e estava preparando o lançamento de “Six Degrees of Inner Turbulence”.
Os shows refletiam o aspecto teatral do álbum. Uma tela de vídeo na parte de trás do palco mostrava imagens acompanhando a narrativa para a história do álbum. Além de tocar o álbum na íntegra, a banda também tocou um segundo conjunto de músicas, bem como alguns covers e improvisações de material antigo.
E nesse clima foi gravado um show extra especial, no Roseland Ballroom, em Nova York, onde foram contratados atores para interpretar personagens na história, além de um coro gospel para atuar em alguns pontos da performance.
Tudo estava perfeito para a banda. Um grande DVD seria lançado com toda essa temática apresentada na turnê. Mas uma triste coincidência acabaria com a felicidade da banda, principalmente do baterista Mike Portnoy, que sempre demonstra seu patriotismo pelos EUA.
A capa para a versão CD que foi lançado do show, intitulado “Scenes Live from New York”, apresentava um dos primeiros logos do Dream Theater (um coração ardente, inspirado no Sagrado Coração de Cristo) modificado para mostrar uma maçã (representando o apelido de NY, “Big Apple”) em vez do coração, e o céu da cidade, incluindo as torres gêmeas do World Trade Center, com a imagem da chama acima delas. Uma capa bem bonita por sinal.
A triste coincidência: o álbum foi lançado no dia 11 de Setembro, o fatídico dia em que as Torres Gêmeas foram atingidas por dois aviões em uma ação terrorista, e, após algumas horas tomadas pelas chamas (assim como na capa do álbum), elas desmoronaram matando milhares de pessoas. O álbum então foi rapidamente retirado das lojas e foi relançado pouco tempo depois com imagens do próprio show na capa.
Estima-se que existam cerca de mil exemplares da capa original rodando o mundo, alguns chegam a ser vendidos por milhares de dólares, que, devido a toda essa coincidência, se tornou item raro para os fãs.
No álbum “Six Dregrees of Inner Turbulence” a banda mudou o nome de uma música por conta dos ataques . “The Great Debate” era originalmente intitulada “Conflict at Ground Zero”. John Petrucci e Mike Portnoy estavam mixando o novo álbum em um estúdio de Manhattan (onde ficavam as torres gêmeas) no mesmo dia dos ataques e fizeram a alteração quando todas as notícias começaram a se referir ao local como “Ground Zero”
John Petrucci fala sobre o 11 de setembro de 2001
O guitarrista John Petrucci, do Dream Theater, falou para o site mexicano RockSalt sobre a capa do disco “Live Scenes From New York” no qual tinha uma montagem das torres gêmeas do World Trade Center e outros arranha-céus pegando fogo. Por coincidência, o dia do lançamento foi no mesmo que aconteceu o ataque terrorista, 11 de setembro de 2001.
Rapidamente, o álbum foi tirado das lojas e lançaram com uma outra capa. Hoje, existem poucas cópias da primeira versão do CD.
“Queríamos ilustrar Nova York, então pegamos o seu símbolo, o World Trade Center”, conta Petrucci. “e outra coisa que tínhamos usado antes, a partir do nosso álbum ‘Images and Worlds’, foi o coração em chamas. Então, tentamos unir as imagens, obviamente não antecipamos aquela coincidência horrível no dia que saiu o disco”.
“Nós percebemos o problema com o álbum, assim que aconteceu (o ataque). Então, fomos falar pelo telefone imediatamente. Eu não lembro a hora, mas me lembro de que éramos um ligando para o outro e falando assim: ‘Meu Deus isto não pode está acontecendo, precisamos mudar a capa imediatamente’. De fato o álbum foi lançado no dia 11 de setembro com aquela capa bizarra. Foi apenas uma total coincidência e nós ficamos realmente desapontados. Nossa primeira reação foi mudar a capa, colocar qualquer coisa rapidamente. Infelizmente, alguns discos foram vendidos, então ainda existem algumas cópias com aquela capa”.
“Não havia argumentos. Todo mundo sentiu a mesma coisa e pensou. ‘Precisamos mudar, precisamos mudar’. Consegui pegar quase todo o estoque e mudamos imediatamente. Ninguém hesitou ou resistiu, porque isto tinha que ser feito”.
terça-feira, outubro 25, 2011
A perigosa e duvidosa volta do Black Sabbath
Ao contrário do que aconteceu em 1997, o mundo não parou nesta semana com o anúncio do retorno da formação original e clássica do Black Sabbath. Neste mês de agosto, Tony Iommi supostamente teria acabado com o mistério na Inglaterra: ele e Ozzy Osbourne teriam se encontrado algumas vezes em julho para compor músicas para um álbum de inéditas e para preparar uma turnê mundial da banda. O último álbum de estúdio do Black Sabbath é "Forbidden", de 1995, com Tony Martin nos vocais; a última turnê ocorreu em 2004.
Porém, horas depois o próprio Iommi colocou uma nota oficial em seu site oficial desmentindo as informações divulgadas por um repórter do jornal Birmingham Post Mail. Disse que nada daquilo era verdade, e pediu desculpas aos companheiros de banda. Entretanto, não negou que esteja pensando e conversando sobre uma eventual volta do grupo.
Os planos seriam de gravar um álbum com músicas inéditas e sair em turnê mundial, algo que não ocorre desde 2004 com essa formação.
Os boatos correm a internet desde junho, quando o guitarrista Tony Iommi encerrou todos os compromissos do projeto beneficente WhoCares, que mantém ao lado do vocalista Ian Gillan (Deep Purple). Em algumas entrevistas, deu pistas de que poderia haver novo trabalho ao lado do vocalista Ozzy Osbourne – com ou sem Black Sabbath.
Os rumores ficaram mais fortes no final de julho, quando “fontes” não identificadas declararam a dois jornais ingleses que Iommi e Ozzy teriam se encontrado três vezes em julho e que o retorno do Black Sabbath era iminente, o que acabou se confirmando na noite de terça-feira em Londres.
A notícia foi recebida com certa indiferença no meio musical, embora o mundo do heavy metal esteja em festa. Há 14 anos, o retorno da formação principal do grupo – Ozzy, Iommi, o baixista Geezer Butler e o baterista Bill Ward – foi a notícia do ano, movimentando milhões de dólares em merchandising e eventos paralelos à turnê mundial que se seguiu.
Todo o catálogo da banda foi relançado em CDs remasterizados, até mesmo os da fase sem Ozzy. O ponto alto foi o lançamento de um CD duplo ao vivo, “Reunion”, no final de 1998, com duas músicas
As duas faixas, “Psycho Man” e “Selling My Soul”, foram gravadas no piloto automático, sem ânimo e sem a menor vontade – tanto que Iommi admitiu em 2000 que Ward não tocou bateria na segunda música, sendo o produtor Bob Marlette se encarregou de adicionar um instrumento eletrônico simulando a bateria.
Sem entusiasmo, vale a pena?
O pouco entusiasmo de 2011 com a volta do Sabbath recoloca a questão: o mundo realmente precisa de mais uma reunião de veteranos, ainda que sejam supercraques como o Black Sabbath?
Fiz essa pergunta em 1989 e 1996 quando The Who resolveu retomar as atividades. Sempre é maravilhoso ver gigantes do rock de volta à ativa, mas em alguns casos o cheiro de armação e de falta de espontaneidade fica evidente. Foi o caso do Who nas duas oportunidades – e o mesmo se deu com o Queen com Paul Rodgers, com o Bad Company atual e com o Thin Lizzy de 2011, entre muitos outros.
Quando Tony Iommi anunciou que voltaria a compor com Ronnie James Dio e Geezer Butler para o lançamento de uma coletânea dos anos do vocalista na banda, todo mundo ficou com um pé atrás.
Dio cantou com a banda depois que Ozzy saiu, em 1979. Ficou de 1980 a 1982, para um breve retorno entre 1992 e 1993. Musicalmente deu muito certo nas duas passagens, com a criação de obras-primas, mas a parceria sempre terminou em trauma, com acusações mútuas de traição e sacanagem.
A mágica de Ronnie James Dio
Mas eis que a química ressurgiu em 2006 quando Iommi, Butler e Dio gravaram três músicas novas para a coletânea “Black Sabbath - The Dio Years”. As músicas eram poderosas e de excelente qualidade.
Imediatamente veio a ideia de chamar o baterista Vinnie Appice e reviver o Black Sabbath da fase Dio e armar uma turnê mundial. Ozzy chiou, ainda que de forma sutil, e o Black Sabbath mudou de nome para Heaven and Hell – álbum e música homônimos, de 1980 e símbolo maior da fase Dio.
“Cansamos de esperar Ozzy decidir o que queria fazer. Aí, de repente, ele diz que estava gravando novo álbum solo. Tomamos o nosso caminho”, disse Iommi em 2007 em entrevista à Guitar Player norte americana.
A nova parceria com Dio rendeu duas turnês mundiais, com passagem pelo Brasil, dois DVDs maravilhosos e um álbum de músicas inéditas, “The Devil You Know”. “Essa volta era o que faltava para que possamos terminar o que foi interrompido duas vezes em 1982 e em 1992”, afirmou Dio em 2009 a este jornalista, durante sua passagem pelo Brasil.
Pela terceira vez, os planos foram interrompidos. No fim de 2009 Dio descobriu o câncer no estômago que o mataria em abril de 2010, aos 67 anos. Mal foi enterrado, e recomeçaram os boatos de que o Black Sabbath original voltaria a se reunir.
Feridas a serem curadas
E como ficam as feridas da última turnê? Ninguém toca no assunto. Bill Ward é realmente um problema, já que sua saúde frágil inspira cuidados. Um baterista reserva deverá ser contratado, como na turnê de 2003-2004. O mesmo Vinnie Appice seria o mais cotado.
Outra questão é a pouca flexibilidade de Ozzy em relação ao repertório. Na última turnê, o Black Sabbath tocou as mesmas dez músicas em todos os shows, o que desagradou muito Geezer Butler.
Na época o vocalista sofria para conseguir redecorar as letras e fazia questão de não cantar mais do que dez músicas nem de permitir trocas no repertório – sem falar em seus frequentes problemas de saúde, que provocou a sua substituição em um show na Áustria, em 2004, por Rob Halford, do Judas Priest.
O que mais pegou, entretanto, foi a posição ocupada pelo Black Sabbath no Ozzfest 2004, que acabou sendo a turnê mundial da banda naquela época.
Iommi nunca escondeu que não engoliu o fato de Ozzy Osbourne fechar o evento todas as noites cantando músicas de sua carreira solo, após a apresentação do Black Sabbath. Ou seja, estava mais do que claro que Ozzy era a maior atração, mais importante do que o grupo que criou em 1968. Apesar dos protestos e das reclamações, Iommi nunca conseguiu dobrar Sharon Osbourne, esposa e empresária de Ozzy.
Como essa questão será encarada? As reações são imprevisíveis, em se tratando de Black Sabbath. O fato é que há muita coisa contra esse retorno, e infelizmente as “ondas negativas” partem do lado do vocalista.
Seja como for, mesmo que não seja memorável, se rolar mesmo, será interessante ver como se comporta o Sabbath no palco e em estúdio em 2011. Se ficar ruim, ainda assim será melhor do que 99,5% do existe no mercado hoje em dia.