quinta-feira, março 05, 2009

O ranking das ditaduras e o oportunismo nojento



Não pretendia entrar no assunto, até porque acho de uma irrelevância absurda, mesmo que a repercussão tenha ido além do normal. A Folha de S. Paulo publicou há duas semanas um editorial em que usou o termo "ditabranda" para comparar a "intensidade" da violência contra opositores e instituições.

Para o autor do editorial (opinião) da Folha, a ditadora militar brasileira foi mais branda, menos feroz, do que outras na América Latina e África, já que matou muito menos. O termo "ditabranda" causou furor nos meios intelectuais brasileiros, com fortes doses de razão, principalmente entre aqueles que lutaram contra a ditadura e foram torturados e entre aqueles que tiveram parentes assassinados pelos militares.

O jornal se defendeu e afirma categoricamente que jamais defendeu a ditadura, ou a volta dela, ou a violência praticada pela mesma - o que é verdade, porque o editorial em nenhum momento faz defesa alguma do regime de exceção.

Na verdade, o que aconteceu foi um erro grosseiro de quem escreveu o editorial. Tentou relativizar algo que não pode ser relativizado ou amenizado. O regime militar derrubou um governo eleito democraticamente, desrespeitou a Constituição vigente - emporcalhando a história do Brasil - e cometeu atrocidades.

Entretanto, o erro grosseiro não justifica a gritaria em torno do assunto, que está morto e encerrado há 30 anos, com a Lei da Anistia. Ficar elaborando ranking de quem matou mais ou menos ou criar uma disputa de arquibancada direita x esquerda são artifícios de indigentes intelectuais para ideologizar da pior forma possível o debate.

O temo "ditabranda" é ofensivo em sua essência, na origem do conceito. É uma tentativa canhestra de relativizar a truculência, a violência, a afronta aos direitos humanos e os crimes perpetrados pelo regime militar brasileiro.

O Estado comandado pelos militares incentivou, patrocinou e ordenou tortura e assassinatos, derrubou governo legal e dmeocraticamente eleito e surrupiou direitos básicos dos cidadãos brasileiros.

Portanto, a comparação sobre o nível de ferocidade entgre ditaduras é totalmente incabível, já que na imensa maioria das vezes elas se igualam na essência: regimes políticos que praticao o crime de Estado, assassinando, torturando e confiscando, entre outras coisas.

Embora o texto do editorial não tenha tido a intenção de defender a ditadura militar brasileira, deixou margem para esse tipo de interpretação oportunista. O erro foi grosseiro, mas foi hiperdimensionado.

E os oportunistas já apareceram como o tal do Movimento dos Sem-Mídia, um grupo de desocupador e enviezados intelectualmente que pretendeu fazer uma manifestação na frente da sede da Folha de S. Paulo no dia 7 de março. É gente que leu o editorial pela metade ou nem leu, mas que adora fazer barulho contra os chamados "donos do poder".

Os pecados da imprensa são muito mais complexos e fundamentais do que um erro grosseiro no texto de um editorial. Esse tipo de gente são os mesmos que adoram culpar a imprensa pela suposta espetacularização de casos policiais - e até mesmo pelo desfecho dos mesmos.

São os mesmos que se excitam ao ficar regurgitando que os grandes veículos de comunicação do Brasil apoiaram o golpe militar de 1964 - o que é verdade. Mas são desonestos intelectuais ao omitirem deliberadamente que os mesmos veículos foram vítimas de censura na ditadura, que seus jornalistas foram igualmente vítimas, investigados, perseguidos, presos e torturados.

Esse é um debate estéril, pois a ideologização, o oportunismo e a má-fé de boa parte dos integrantes dos dois lados desvia o foco da discussão e joga a razão na lata do lixo.