segunda-feira, dezembro 22, 2008

A era da buzina assassina



O caos do trânsito da Grande São Paulo está transformando um instrumento fundamental do automóvel em uma vilã das ruas paulistas e paulistanas. A criminalização da buzina chegou a um ponto que ela passou a ser uma arma contra o "buzinador" e uma "justificativa" para que atrocidades seja cometidas por quem se sentiu "ofendido".

As conseqüências do uso da buzina do trânsito, quase sempre trágicas, mostram a que ponto chegou o nível de falta de educação e desfaçatez do povo que vive nas grandes cidades. Buzinar virou um ato obsceno, uma agressão, que merece ser punida com a morte.

A buzina, se pudesse, seria proscrita pela maioria dos motoristas, justamente os mesmos que trocam de faixa e fazem conversões sem sinalizar com a seta; são os mesmo que param em fila dupla; os mesmos que andam, na contramão; que fazem conversões proibidas; estacionam em local proibido; param em cima da faixa de pedestres; e que andam a 120 km/h por hora em ruas que admitem no máximo 60 km/h de velocidade; são os mesmos que bebem antes de dirigire que não ligam que os filhos menores façam o mesmo, dirigindo sem autorização; e são os mesmo motoristas que compram carteiras de habilitação e pagam propinas para evitarem multas.

Há tempos os barsileiros estão no desvio ético. Conseqüência, em grande parte, dos desmandos do lixo autoritário do regime militar ditatorial que dominou a vida política nacional entre 1964 e 1985.

Foi na Ditadura Militar que o jeitinho brasileiro foi alçado a instituição. O mundo era dos espertos, daqueles que tinham conexões, conhecidos em lugares estratégicos, daqueles que sabiam os atalhos para se "dar bem", roubando dinheiro público ou simplesmente furar a fila do ingresso no jogo de futebol.

A ética na vida cotidiana primeiro foi escanteada, para depois ser soterrada e, por fim, ignorada. Já h0uve dirigente de futebol que disse que ética é coisa de e para filósofos. Ele resumiu bem o pensamento nojento que a classe média adotou no "vale tudo" do fim dos anos 70 e começo dos anos 80.

Ninguém vota mais no melhor candidato, mas naquele que pode favorecer ou não "prejudicar". Não é por outro motivo que políticos carregados de denúncias, como Paulo Maluf e Jáder Barbalho, por exemplo, ainda conseguem se eleger deputados federais e obtêm considerável número de votos em eleições majoritárias.

Em pleno século XXI, existem eleitores que não acham nada de errado na máxima "rouba, mas faz", atribuída ao político paulista Adhemar de Barros, um trator eleitoral nos 50 e 60 do século passado.

É justamente essa falta de ética, ou a ética do jeitinho totalmente exacerbado, que pesa contra a buzina, instrumento importante de alerta em um automóvel. Uma buzinada pode ser uma sentença de morte no trânsito enlouquecedor da Grande São Paulo.

Em um trajeto de menos de três quilômetros, da avenida Kennedy, a rua dos bares de São Bernardo, à avenida Pereira Barreto, próximo ao falido hospital Baeta Neves, duas buzinadas que dei foram motivos suficientes para xingamentos e início de brigas, no último domingo, dia 21 de dezembro.

Na avenida Lucas Nogueira Garcez, um Megane, da Renault, atravessou dois semáforos vermelhos e trocou de faixa sem sinalizar duas vezes, quase atropelando uma família e colidindo com dois carros, um deles o meu. Os dois buzinaram.

O motorista do Megane, um cidadão gordo com olhar feroz, típico representante da classe média que se acha melhor do que a patuléia, destilou todos os palavrões que sabia e ficou provocando o motorista do Vectra que havia buzinado. Chegou a jogar o carro em cima do Vectra, quase provocando o que seria nova colisão.

Na avenida Pereira Barreto, um Gol cheio de garotos de não mais de 18 anos, com latas de bebida nas mãos, saiu de uma travessa e entrou na movimentada avenida, o que fez com que um outro Gol tivesse de desviar em cima, jogando o carro para outra faixa, e que um Corsa freasse bruscamente para evitar a colisão. Inevitavelmente, as buzinas soaram. Novos xingamentos e ameaças e uma lata foi arremessada contra o Corsa.

No intuito de perseguir o motorista do Corsa, o Gol baderneiro, dirigido por um animal, me fechou, quase batendo no meu carro e em outro Gol, que estava a minha direita. Outras duas buzinas soaram e a ira dos jovens aparentemente bêbados se voltou contra mim, com xingamentos e manobras provocativas.

Isso é comum todos os dias, nas ruas da Grande São Paulo. Se a classe média abandonou de vez a ética, como exigir um comportamento decente de pessoas de classes mais populares, sem acesso a uma educação de qualidade mínima e oprimida por um modelo econômico às vezes injusto - ainda que esse seja bem melhor do que os outros?
Oportunismo agora é explícito


A pressão está dando certo. A conversa agora sobre a crise, e que parte principalmente da Fiesp (Federação das Indústrias doEstado de São Paulo), é a do chamado Pacto Social. Não passa de mais um eufemismo para cortar direitos trabalhistas e jogar para as costas do governo federal uma massa de trabalhadores desempregados que teriam de sobreviver com o seguro-desemprego.

Oportunistmo e casuísmo é pouco para definir a falta de discernimento do empresariado nacional para enfrentar esses tempos de crise. Durante quatro anos todo mundo ganhou dinheiro a rodo com a boa conjuntura internacional e a condução responsável e inteligente da política econômica brasileira.

Entretanto, com dois meses de crise financeira mundial, muitas empresas começam a falar em demissões e pactos para reduzir custos - leia-se redução de salários e benefícios trabalhistas.

É claro que já está mais do que na hora de se discutir novas formas de organização e legislação trabalhistas, até porque muito do que foi criado para proteger nos anos 70 e 80 hoje se voltam contra o trabalhador, muitas obrigado a cair na informalidade se quiser trabalhar - é a famigerada "pessoa jurídica", uma afronta total à legislação, onde a empresa terceiriza os encargos trabalhistas.

Só que querer discutir agora alterações e alternativas à lei vigente é nojento, é um oportunismo mais do que vil. Há pelo menos 14 anos que se debate a necessidade de uma lei do trabalho mais adequada ao século XXI, mas sempre alguém empurra a discussão - invariavelmente, empresários e governo.

Para as empresas, a única reforma trabalhista aceitável é aquela que acaba com benefícios trabahistas. Não sendo assim, preferem burlar a lei, como fazer a maioria dos empresários. É o maldito pensamento que prega a extinção do 13º salário, das férias, da licença-maternidade, do aviso prévio e de outras conquistas do trabalhador.

O curioso é que ninguém fala em rever a tributação sobre os salários. E nem mesmo os impostos pesados sobre outros aspectos da vida econômica nacional. E o momento está passando.

Afinal, se um governo do PT, o partido dos trabalhadores, chefiados por um ex-metalúrgico, não abre a discussão, após seis anos no Palácio do Planalto, o que esperar de um eventual governo de outro partido, que certamente estará pouco ou nada comprometido com os trabalhadores?

O novo "Pacto Social" proposto pela Fiesp é um colosso de desfaçatez. E entidade quer propor um acordo para minimizar os efeitos da crise sobre o nível de emprego com base em duas medidas: a redução de salários e jornada de trabalho e a flexibilização do pagamento de direitos como férias, 13º salário e participação nos lucros.

Roberto Della Manna, vice-presidente da Fiesp, explicou que a instituição tem propostas para evitar as dispensas de funcionários, que serão detalhadas no início de 2009. Segundo Della Manna, uma das alternativas é a redução da jornada de trabalho com a conseqüente diminuição dos salários. “A lei permite que isso seja feito até 20% do salário mediante acordo com os sindicatos.”
A outra alternativa, diz Della Manna, é fazer um acordo para novas formas de divisão de pagamento de benefícios como adicional de férias de 30%, 13º salário e participação nos lucros.

E o interessante é que até agora nenhuma liderança sindical se manifestou sobre tais abusos sugeridos por entidades empresariais - ou, se houve manifestação, ninguém percebeu. Os empresários tomaram a dianteria na discussão. O que é que os sindicatos estão esperando?
Terrorismo econômico é inaceitável


Não há dúvidas de que a crise financeira já chegou ao Brasil. São vários os setores que sentem e diminuição das vendas e das encomendas. Entretanto, já há setores gritando antes da hora e se pendurando na gorda aba da União.

As montadoras reduziram a produção com a queda nas vendas de até 20%, dependendo do indicador e do índice econômico analisado. Quase todas ou já concedera ou vão conceder férias coletivas aos funcionários, por períodos maiores do que os usuais.

Para completar, eis o que o setor de autopeças prevê para a primeira semana de janeiro, em texto publicado em 3 de dezembro, no jornal O Estado de S. Paulo:

Diante da queda das encomendas das montadoras, que viram as vendas de carros despencarem, e da redução das exportações, por causa da crise internacional, o setor de autopeças prevê 7,5 mil demissões até o fim do ano. As empresas também vão suspender toda a produção pelo menos durante 16 dias neste mês e dar férias coletivas. Várias planejam reduzir os investimentos.

Sondagem feita pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos (Sindipeças) com 95 empresas, responsáveis por 41% do faturamento do setor, aponta para incertezas em 2009. “O primeiro trimestre será muito difícil”, afirmou o presidente da entidade, Paulo Butori, em nota.


Não se trata de ignorar a crise e seus efeitos, longe disso. Neste mesmo espaço já avia comentado que em breve teríamos que conviver com o fantasma dos problemas retração econômica. O que não se pode admitir é o terrorismo que começa a pipocar na imprensa.

Ameaçar demitir 7,5 mil trabalhadores é terrorismo puro, inaceitável em um momento de ajustes e de análises mais detalhadas sobre o efeito da crise. Esse tipo de terrorismo é o estopim para mais uma onda de pânico financeiro.

Quando a economia cresceu e a indústria bateu seguidos recordes de vendas e produção por quase três anos foi uma festa, todo mundo aproveitou e se esbaldou de ganhar dinheiro. Agora, aos primeitros sinais de problemas, o setor de autopeças resolve, como primeira medida, demitir. Inaceitável sobre todos os aspectos.

Não bastam somente medidas "sindicais" para conter e protestar, é preciso que o poder público, que está acenando com ajudas bilionárias à indústria em âmbitos estadual e federal, tome providências e puna quem resolver demitir.